15/11/2015 11:11:00 - Atualizado em 15/11/2015 11:17:00

Sobrevivente relata momentos de terror no Bataclan: 'fingi estar morta por mais de uma hora'

Redação/RedeTV!

Isobel em foto de perfil no Facebook (Foto: Reprodução/Facebook)

"Você nunca pensa que vai acontecer com você". É assim que Isobel Bowdery, sobrevivente do ataque a casa de show Bataclan, em Paris, inicia o relato dos momentos de terror e desespero que vivenciou na última sexta-feira (15). 

Em seu perfil no Facebook, a estudante de 22 anos publicou a foto da camiseta que vestiu para ir ao show da banda Eagles of Death Metal: uma blusa branca, agora manchada de sangue.

Em inglês, Isobel conta que ficou deitada no chão, em meio aos corpos de vítimas e feridos. Fingiu estar morta para sobreviver. "Estava deitada sobre o sangue de estranhos e esperando a bala que daria fim aos meus 22 anos".

Na rede social, o relato teve mais de 510 mil compartilhamentos e 1,5 milhão de curtidas, além de centenas de mensagens de solidariedade. 

you never think it will happen to you. It was just a friday night at a rock show. the atmosphere was so happy and...

Posted by Isobel Bowdery on Saturday, November 14, 2015

Leia na íntegra:

"Você nunca pensa que isso vai acontecer com você. Era apenas uma noite em um show de rock. A atmosfera estava tão feliz e todos estavam dançando e sorrindo. E, então, vieram os homens pela entrada principal e começaram a atirar. Nós acreditamos, inocentemente, que era tudo parte do show. 

Não foi apenas um ataque terrorista, foi um massacre. Dezenas de pessoas foram baleadas na minha frente. Piscinas de sangue encheram o chão. O choro de homens crescidos sobre os corpos de suas namoradas mortas encheram a pequena casa de shows. Futuros dizimados e famílias de coração partido em um instante. 

Chocada e sozinha, eu fingi que estava morta por mais de uma hora, deitada entre pessoas que podiam ver aqueles que amavam sem vida. Estava segurando minha respiração, tentando não me mover, não chorar - não dar àqueles homens o medo que eles queriam tanto ver.

Eu tive a incrível sorte de sobreviver. Mas muitos não tiveram. Pessoas que estavam ali pelas mesmas razões que eu - para se divertirem na noite de uma sexta-feira. Este mundo é cruel. Atos como esse são supostamente para realçar a depravação do ser humano e as imagens dos homens circulando entre nós como vultos vão me assombrar pelo resto da minha vida. A forma como eles meticulosamente atiraram nas pessoas ao redor da área em que estavam, bem no centro, sem nenhuma consideração pela vida humana. Não achei que fosse real. Eu esperava o momento em que alguém me diria que isso era apenas um pesadelo.

Ser uma sobrevivente desse horror me faz capaz de lançar uma luz sobre os heróis. Ao homem que me tranquilizou e colocou sua vida na linha de tiro quando tentou cobrir meu cérebro enquanto eu gemia; ao casal cujas palavras finais de amor me mantiveram acreditando no mundo; ao policial que sucessivamente resgatou centenas de pessoas; aos completos estranhos que me tiraram da rua e me consolaram pelos 45 minutos durante os quais eu achei que o homem que eu amo estava morto; ao homem machucado que eu confundi com ele e, quando eu reconheci que não era Amaury, me segurou e me disse que tudo ia ficar bem, mesmo que ele estivesse sozinho e assustado; à mulher que abriu suas portas para os sobreviventes; aos amigos que ofereceram abrigo e foram comprar novas roupas para mim para que eu pudesse tirar essa blusa suja de sangue; a todos que enviaram mensagens de carinho e apoio - vocês me fazem acreditar que o mundo ainda tem potencial para ser melhor, que nunca vão deixar isso acontecer de novo. Mas, principalmente, às 80 pessoas que foram assassinadas dentro da casa de show, que não tiveram tanta sorte, que não vão acordar hoje e toda a dor que seus amigos e família estão passando agora.

Eu peço desculpas. Não há nada que eu possa fazer para aliviar a dor. Eu me sinto privilegiada por estar lá em seus últimos suspiros. E , sinceramente, acreditando que me juntaria a eles, eu prometi em meus últimos pensamentos que nós não éramos os animais que causaram isso. Estava pensando nas pessoas que eles amavam. 

Enquanto estava deitada sobre o sangue de estranhos e esperando a bala que daria fim aos meus 22 anos, eu visualizei o rosto de todos aqueles que eu amei por toda a vida e sussurrei 'eu te amo', várias e várias vezes. Refleti sobre os pontos altos da minha vida. Desejando que aqueles que eu amo soubessem o quanto, desejando que eles soubessem, independentemente do que acontecesse comigo, que deveriam continuar acreditando nas pessoas boas e não deixar esses homens vencerem. Noite passada, as vidas de muitos foram mudadas para sempre e cabe a nós ser pessoas melhores - para viver a vida que as inocentes vítimas desta tragédia sonharam, mas infelizmente são serão capazes de realizar."

O atentado

Militantes do Estado Islâmico, armados com AK-47 e bombas, atacaram restaurantes, bares lotados e a casa de shows Bataclan nos arredores de Paris, na noite de sexta-feira (13). Até agora, os números oficiais contabilizam 129 mortos e 352 feridos.

Oito terroristas, todos com coletes de explosivos, atacaram sete locais, entre eles o estádio nacional, onde ocorria um jogo de futebol entre as seleções de França e da Alemanha. 

Estes foram os atentados mais sangrentos na Europa desde os ataques em Madrid, em 2004.

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