16/06/2016 08:30:00 - Atualizado em 16/06/2016 08:33:00

Integrantes do PMDB confirmam trecho de delação de Machado, diz jornal

Redação/RedeTV!

Pessoas que viveram os bastidores do PMDB teriam confirmado um dos trechos da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, tornado público nesta quarta-feira  (15) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo a coluna "Painel", do jornal Folha de S. Paulo desta quinta-feira (16).

O trecho diz respeito ao presidente interino Michel Temer que, segundo o jornal, citando relatos de peemedebistas, teria reassumido o comando do partido para arbitrar a distribuição de R$ 40 milhões encaminhados pelo PT e conter a insatisfação de deputados que reclamavam da partilha desigual. Para os parlamentares, apenas os senadores estavam sendo beneficiados.

Acusações contra Temer

Em parte da delação divulgada ontem pelo STF, Sérgio Machado disse que Temer pediu recursos ilícitos para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012. "O contexto da conversa deixava claro que o Michel Temer estava ajustando com o depoente era que este solicitasse recursos ilícitos das empresas que tinham contratos com a Transpetro na forma de doação oficial para a campanha de Chalita", disse o termo de colaboração divulgado pelo STF.  "Ambos acertaram o valor, que ficou em 1,5 milhão de reais; que a empresa que fez a doação -- no valor ajustado -- foi a Queiroz Galvão."

Em nota, o presidente interino afirmou que a versão relatada pelo ex-presidente da Transpetro é "absolutamente inverídica" e afirmou que sempre buscou recursos para campanhas eleitorais dentro dos limites da lei. Disse ainda que tinha um relacionamento "apenas formal e sem nenhuma proximidade" com Machado.

Cúpula do PMDB

Em sua delação, o ex-presidente da Transpetro implicou ainda toda a cúpula do PMDB, além de parlamentares do PSDB, DEM, PSB e PT, entre outros.  Afirmou que durante sua gestão na subsidiária da Petrobras, foram repassados ao PMDB pouco mais de 100 milhões de reais em comissões pagas ilicitamente de empresas contratadas pela Transpetro.

Desse total, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teria recebido 32 milhões de reais, o maior valor. O ex-ministro de Minas e Energia e atualmente senador Edison Lobão (PMDB-MA), ficou com 24 milhões de reais. Romero Jucá (PMDB-RR), senador e ex-ministro do Planejamento, recebeu 21 milhões de reais; o ex-presidente José Sarney, 18,5 milhões de reais; o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), 3 milhões de reais. No valor total também estavam inclusos os recursos que teriam sido acertados para reforçar a campanha de Chalita à prefeitura de São Paulo, segundo a delação.

Machado chega a dizer que foi ameaçado de perder o cargo porque não arrecadava o suficiente, mas com a chegada de Lobão ao Ministério das Minas e Energia, em 2008, ainda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a capacidade de investimento da Transpetro aumentou, e ele pode fazer mais contratos e os recursos cresceram.

A cúpula do PMDB então --Renan, Jucá, Lobão e Sarney-- passou a receber pagamentos mensais, o que aconteceu até 2014, segundo Machado. Lobão e Renan, por exemplo, receberam cerca de 300 mil por mês entre 2008 e 2014, apesar de Renan ter recebido recursos ilegais esporadicamente desde 2004, de acordo com o depoimento do delator.

Machado detalha ainda outros valores. O ex-senador tucano Sergio Guerra, morto em 2014, teria sido beneficiário de 2 milhões de reais. O deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), teria recebido 500 mil reais, com a promessa de mais 500 mil, que terminou por não receber. A Barbalho teria sido repassado 3 milhões.

Machado cita, ainda, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, que teria organizado um grande de arrecadação de recursos ilícitos para eleger deputados, em 1998, para garantir a eleição do tucano à presidência da Câmara em 2001. O senador teria recebido à época 1 milhão de reais em dinheiro vindo de propinas.

Em sua delação, o presidente da Transpetro afirmou aos procuradores que, embora a palavra propina nunca tenha sido dita, os políticos que o procuravam ?conheciam o funcionamento do sistema? e sabiam que não seriam doações dele, como pessoa física, e nem da Transpetro, mas de empresas que tinham relacionamento contratual com a Transpetro.

"Esses políticos procuravam o depoente porque ele era presidente da Transpetro e tinha como amealhar recursos", diz o documento.  

Machado revela, ainda, saber que as doações não eram feitas de forma lícita e só aconteciam porque as empresas tinham contratos com a Transpetro, e cita 11 delas que faziam pagamentos constantes, sendo 3 por cento dos contratos na área de serviços e 1,5 por cento na área de navios.

"Existem doações oficiais feitas licitamente por empresas, mas que as que o depoente obteve não o eram; que o depoente fazia reuniões individuais, mensais ou bimensais, com os políticos e os presidentes e controladores das empresas pagadoras de propina para acertar o montante que seria pago'', diz a delação.

Lava Jato

O documento da delação também afirma que Machado disse aos investigadores da Lava Jato que Jucá levantou a possibilidade de realizar uma nova assembleia constituinte em 2018 na qual seriam reduzidos os poderes do Ministério Público como forma de atrapalhar as investigações da operação Lava Jato, que apura um bilionário esquema de corrupção envolvendo a Petrobras.

O ex-presidente da Transpetro também disse em depoimento, de acordo com o documento do STF, que Renan propôs um "pacto de Caxias", que consistia em uma série de medidas legislativas com o objetivo de dar "anistia ou clemência" aos investigados pela Lava Jato.

Diz, ainda, que Renan tentou impedir a recondução do procurador-geral, Rodrigo Janot, ao cargo por conta do avanço da Lava Jato, mas que desistiu da empreitada devido à pressão popular para que Janot tivesse mais um mandato à frente da Procuradoria-Geral da República.

A acusação feita por Machado de que Renan e Jucá buscavam atrapalhar a Lava Jato levaram Janot a pedir ao Supremo a prisão de ambos, mas o pedido foi rejeitado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato na corte.

Em nota, Aécio disse que as acusações feitas por Machado "não possui sequer sustentação nos fatos políticos ocorridos à época" e disse que em 1998 sua candidatura à presidência da Câmara não era cogitada.

Renan, por sua vez, classificou a versão apresentada por Machado de "fantasiosa" e disse que as declarações não provam nada.

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que representa Jucá, Sarney e Lobão, disse que "os senadores negam peremptoriamente terem recebido qualquer montante a qualquer título".

"A delação tem que ser vista com muita reserva dadas as circunstâncias em que foi feita", disse Kakay.

Em nota, o PSDB rebateu as citações feitas a Sergio Guerra e a outras lideranças do partido, classificando-as de "falsas acusações".

"São afirmações feitas no desespero de quem está tentando se livrar da responsabilidade pelos crimes que cometeu", afirma a nota.

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