11/10/2024 12:57:00 - Atualizado em 11/10/2024 13:00:00

"O Brasil está formando um grande deserto", analisa José Graziano sobre desmatamento e queimadas

Redação RedeTV!

Ao ‘É notícia’, o diretor do Instituto Fome Zero analisou como os impactos ambientais podem comprometer a alimentação no país

(Reprodução/RedeTV!)

Nesta quinta-feira (10), o ‘É Notícia’ recebe José Graziano, ex-diretor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e atual diretor do Instituto Fome Zero (IFZ). Com apresentação de Kennedy Alencar, o agrônomo conversou sobre insegurança alimentar no Brasil e a fase atual da floresta da Amazônia, além de analisar eventuais impactos derivados do desmatamento.

Graziano iniciou a entrevista analisando como está a situação da fome no país no pós-pandemia. Vale lembrar que voltamos ao Mapa da Fome da FAO durante a emergência global.

“Hoje, no Brasil, está bem melhor do que na pandemia. Um em cada três brasileiros estava em situação de insegurança alimentar. 70 milhões até 2022.”, afirmou o especialista, que acrescentou: “Hoje em torno de 20 milhões de pessoas. Mas ainda é alto, 10% da população”, examinou Graziano.

Em níveis globais, o entrevistado também pontuou alguns dados em relação à subalimentação: “Hoje, estima-se, que 750 milhões de pessoas no mundo passam fome. E 1 bilhão de pessoas no mundo estão obesas. O problema da alimentação está se tornando cada dia mais grave.”

Apesar dos números em alta, o agrônomo destacou os esforços do Brasil em relação ao tema que foi notado pela FAO. Em relatório divulgado em 2024, o órgão afirmou que a América Latina fez um “progresso notável” em relação à insegurança alimentar por meio de políticas públicas.

“O Brasil colocou a alimentação na frente. Segundo a FAO, em 2024, a redução da fome na América Latina, na América do Sul, foi graças à redução do Brasil”, argumentou.

Sobre o meio-ambiente e sobre especificamente a floresta da Amazônia, Graziano relembrou a história do deserto do Saara que passou por mudanças significativas, incluindo o cultivo de monocultura. “O Saara, que era uma floresta tropical antes, virou deserto por conta do fogo, por conta do corte indiscriminado de árvores, igualzinho a Amazônia.”

José Graziano assegurou que já há áreas desmatadas irrecuperáveis na Amazônia: “Pode virar. As áreas que já sofreram desmatamento no início da ocupação, como o sul do Pará, por exemplo, já temos áreas desertificadas. Pura areia, chamado ‘areião’, que não consegue mais controlar. O Brasil está formando um grande deserto, aliás. Nessa região que é o núcleo do MATOPIBA.”

Ao final, o diretor do Instituto Fome Zero fez uma análise sobre o impacto ambiental após queimadas e desmatamento: “O impacto não é só na alimentação, é na vida, na sobrevivência.”

“Logo, logo, teremos as chamadas tempestades de areia, que estão atingindo as cidades próximas e se intensificaram. É uma praia sem mar. Recuperar esse deserto é uma luta muito mais difícil do que preservar e evitar a desertificação”, completou.


Veja a íntegra do programa:



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