Férias de julho: como lidar com as mudanças na rotina de crianças atípicas
Ana Martins/ Redação RedeTV!Tema ficou em destaque após Marcos Mion dar relatos sobre o filho, Romeo
(foto: Freepik)
O mês de julho é marcado pelo período de férias escolares escolhido por muitas famílias para viajar. No entanto, essa época acaba sendo um desafio para os pais de crianças atípicas devido à grande mudança na rotina.
Esse tema foi colocado em pauta, principalmente, após o apresentador Marcos Mion vir a público para explicar o motivo da família estar viajando sem seu filho mais velho, Romeo.
Para as pessoas com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) manter a rotina evita episódios de estresses e ansiedade, conforme explica a neuropsicóloga infantil Nathália Malagone. “Pessoas que possuem o diagnóstico de TEA podem apresentar uma defasagem nas funções executivas, que é uma habilidade de solução de problemas. Sair da rotina, pode ser um grande desafio pela dificuldade do replanejamento, além das questões sensoriais, como dificuldades auditivas e táteis”, esclarece a especialista.
A assistente social e escritora, Daniele Milena, mãe da Estela, de 7 anos, e do Gustavo, de 6, diagnosticado com autismo nível 2, revela que mesmo sendo um desafio a maternidade atípica e típica juntas não há impedimentos de realizar nada. “A maternidade atípica nos faz ressignificar muitas coisas, mas não nos impede de visitarmos novos lugares, realizarmos viagens de férias em família, ela só nos pede um pouco mais de resiliência e planejamento”, contou em conversa ao Portal da RedeTV!.
Daniele destaca que a ressignificação ocorre em alguns hábitos comuns, porém que precisam ser previsíveis para os filhos, por isso ela destaca que as férias em família são organizadas e s cuidados com a segurança devem ser redobrados, pois autistas não tem noção de perigo. “Para nós, tudo vem muito antes, trabalhar na terapia, mostrando figuras do local, do avião, ou do trajeto de carro, é preciso pensar nos restaurantes que tem por perto que sirvam as coisas que normalmente ele gosta, já que tem seletividade alimentar. A gente se preocupa com a janela, com a sacada sem proteção, nos preocupamos se ele vai ficar sentado o voo inteiro, se vai entender os horários da nova rotina. Uma simples viagem requer planejamento antecipados de coisas que normalmente são corriqueiras. Tudo é pensado para que não gere uma crise que possa sobrecarregar ele e também toda a família”.
A neuropsicóloga infantil também pontua que a previsibilidade pode ajudar a criança se preparar para as mudanças. “Previsibilizar e incluir a criança nas escolhas pode deixa-lá mais confortável com o percurso”, destaca Nathália, que ainda cita que destinos com muitos estímulos e que demanda muito tempo fora da rotina devem ser trocados por locais mais acolhedores.
A mãe de Gustavo conta que diversos passeios em família foram momentos felizes para todos, porém simples momentos de lazer como uma ida ao shopping pode ser “caóticos” se fugir da rotina. Daniele ainda disse que a primeira viagem do filho de avião está sendo planejada e que a família ficará em uma casa locada para cozinhar e proporcionar um aconchego maior. “Estamos programando nossa primeira viagem de avião em família, sabemos que um planejamento de viagem é sempre muito prazeroso, causa aquele frio na barriga e não foge muito as regras básicas, mas para uma família atípica é um pouco diferente. Temos que pensar nos possíveis imprevistos.”
Para as famílias de crianças atípicas que pretendem planejar uma viagem, a neuropsicóloga infantil cita algumas dicas que podem ajudar a evitar uma experiência traumática para os filhos:
- Introduzir o cenário da viagem;
- Comunicar a agência, a companhia aérea e o hotel;
- Dar previsibilidade;
- Levar um objeto de segurança para apoio emocional;
- Evite estimular a ansiedade com contagem regressiva cedo demais;
- Estabeleça com uma rotina com programação na viagem;
- Solicite o embarque prioritário;
- Use fotos para mostrar como é o veículo da viagem;
- Use alguma forma de identificação, como pulseira.
Aos pais, a especialista pede que eles entendam a necessidade de cada criança para elaborar roteiros que levem diversão, sempre respeitando sua diversidade e individualidade, afinal as férias devem ser um momento de lazer e descanso para todos!
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