02/10/2015 15:18:00 - Atualizado em 08/10/2015 11:41:00

Com crise, pais contam se irão comprar presente no Dia das Crianças

J.B. Duran/Redação RedeTV!

(Foto: Divulgação)

A crise econômica e a alta do dólar estão assustando o consumidor, comerciante, mas é o comércio que está vendo o dinheiro correr pelo ralo com queda nas vendas e alta das taxas de impostos. O setor de brinquedos é um desses. 

“Porque ninguém vai deixar de comprar comida, para comprar brinquedo”, disse o superintendente de economia da Associação Comercial de São Paulo Marcel Solimeo. Essa perspectiva nada otimista do ponto de vista dele, como economista, para os País,  é referente a data comercial do Dia das Crianças, que é no próximo 12 de outubro.

Na observação dele, não vai ser fácil para os pais comprarem brinquedos caros para seus filhos como já fizeram em outros anos, antes da atual crise, por causa da inflação galopante, com juros altos e dólar disparando. Então, brinquedo importado ou nacional de valor alto, na opinião dele, está fora de cogitação do bolso do trabalhador brasileiro. E é bom, segundo ele, o assalariado pensar muito antes de comprar produto caro. 

“Os pais não podem agir com a emoção na hora de pensar em dar presente para os filhos. Têm de agir com a razão, para não se endividar. Porque fazer dívida na atual crise econômica é traçar um destino triste para o final de ano, que também não deve ser grande coisa se a atual crise persistir”, alerta o economista.

Claro que é uma data que qualquer pai ou mãe quer agradar o filho e não há como fugir disso, porque a criança sempre espera o presente que pediu, mas se os pais não puderem dar aquele presente desejado pelo filho, busquem uma alternativa, comprando presentes mais baratos e criativos. Conversem com a criança tentando fazer ela entender que no momento não vai ser possível dar o que ela quer.

E o economista recomenda que é melhor comprar à vista do que a prazo no momento, mas antes de efetuar a compra, pesquisar muito em vários estabelecimentos comerciais. E aqueles  pais que conseguirem convencer os filhos a não ganharem presentes neste Dia das Crianças, deixem para fazer esse gasto no Natal. . “É Dia das Crianças, mas a situação não está para brinquedo”, resume ele.

para os pais de diferentes classes sociais, esse próximo Dia das Crianças, não será como dos outros anos, de presentões com brinquedos, caros ou eletroeletrônicos digitais como tablets, celulares, jogos virtuais entre outros do mesmo seguimento. É o caso da jornalista e assessora de imprensa Silvia Lakatos, 36 anos, que tem um filho de 8 anos. “Não posso dar o que o meu filho quer, porque é importado e com a alta do dólar, o brinquedo já subiu de preço várias vezes e pode ser que suba mais ainda. Já avisei a ele que vai ser um presentinho, como um boneco de super-herói ou outro”, contou . Ela disse que há alguns anos, o presenteou com brinquedo caro, mas não havia inflação, nem juros altos e muito menos taxa de desemprego que assusta qualquer trabalhador. “A economia não está para brincadeira. Não vou comprometer meu cartão de crédito, comprando um brinquedo caro, seno que, posso precisar dele, para uma emergência com meu próprio filho”, justificou. Outro item que a jornalista acrescenta na justificativa para não comprometer a renda comprando brinquedo caro, é o fato do preço dos alimentos estarem muito altos. “Fazer supermercado está caríssimo. Não posso gastar dinheiro com brinquedo caro, sendo que, esse dinheiro pode vir a ser usado na alimentação”, pondera Silvia.

Mais preocupada ainda com a crise econômica do Brasil e com a própria situação financeira, está a caixa de um restaurante Érica Nascimento Gomes, 39 anos, mãe de dois filhos; um de 12 e um de 10 anos. Para ela, esse será sim um Dia das crianças de pequenos e baratos presentes. “Esse ano, meus filhos vão ganhar apenas uma lembrancinha sim, já conversei com os dois. A situação econômica não está fácil. Tudo aumentou de preço, principalmente a alimentação e eu e meu marido, mesmo sendo dois salários em casa, não podemos comprometer o abastecimento de nossa geladeira e dispensa, gastando dinheiro com brinquedo caro. Foi se o tempo disso”, comentou. E além da preocupação com a dispensa da casa, ela se vê preocupada com tanto aumento de taxas e impostos e a remuneração financeira dela e do marido, continua a mesma. “Não posso me dar ao luxo de presentear meus filhos com brinquedos caros, sendo que a luz lá em casa dobrou o valor da conta, roupas subiram de preço, gás subiu de preço e o meu salário e do meu marido, continua o mesmo”, apontou ela.

Alternativas dos pais

O gerente administrativo Lucas Barretos Fernandes, 42 anos, tem três filhos; um de 4, outro de 6 e o mais velho de 13 anos. Sua mulher é professora de uma instituição escolar da rede privada de ensino. Ele confessou que os dois ganham um salário razoável, mas de três anos para cá não tiveram aumento salarial, e estão vendo o preço de tudo subir absurdamente.

Lucas contou que há alguns anos levou as crianças para a Disney, nos Estados Unidos, como presente de Dia das Crianças, por duas vezes. Nos outros anos, comprou presentes bons e caros, mas neste ano vai ser diferente. “A escola dos meus filhos aumentou três vezes e não é barata. A prestação da minha casa própria, está altíssima e por enquanto, estou pagando só as intermediárias. Nem comecei a pagar a prestação da casa mesmo. O condomínio do prédio só aumenta. Resumindo, tudo o que eu e minha esposa ganhamos, está sendo somente para pagar as contas. Dá para pensar em presentear os filhos com brinquedos caros?”, pergunta ele.

O gerente administrativo disse que vai dar de presente para os filhos brinquedos antigos e “analógicos”, como ele mesmo definiu os jogos de tabuleiros, tipo banco imobiliário. “Pelo menos, é educativo. E eu estou vendo todos esses brinquedos ressurgirem fazendo frente aos eletrônicos”, observou.

Se não tivesse comprado antes, o chefe de segurança Júlio Pereira dos Santos, 38 anos, não teria como presentear seus três filhos, com três bicicletas . Ele tem uma menina de 6 anos, e os gêmeos de 12. “Eu comprei essas bicicletas no ano passado, escondi na casa da minha mãe e fui pagando as prestações. Se eu não tivesse feito isso, eu não teria como dar presente nenhum a eles, porque, há seis meses, minha mulher perdeu o emprego de secretária da empresa que ela trabalhava. A firma não andava bem das pernas e fechou as portas. Não pagou ninguém até agora. E sozinho estou bancando tudo com meu salário, que não aumentou, mas tudo o que se vai comprar aumenta todo mês”, revelou. Para ele, o que mais preocupa é o preço da comida que sobe, segundo ele ,como “feijão fervendo na panela de pressão”.

Mesmo para quem está podendo, apesar da situação econômica, o Dia das Crianças não vai ser como em outros anos. Isso é o que diz a empresária Gilda Vasconcelos Martin Silveira, que é proprietária de três óticas e tem seis netos. O mais velho, de 16 anos, sempr ganhou vários brinquedos importados nesta data, mas, desta vez, não vai ser assim.

“Não está fácil administrar as duas empresas que tenho, não está fácil pagar encargos sociais tributários dos vários funcionários que tenho, além de duas empregadas em casa. A conta de luz está um absurdo. Tudo está um absurdo. Não vou comprar presentes importados para meus netos como já fiz em outros anos. O dólar está altíssimo e muita mercadoria da minha loja é importada e tenho que pagar por elas primeiro, para depois colocar à venda. Não posso comprometer mercadoria com brinquedos”, afirma a empresária. Ela disse que não sabe ainda o que vai dar de presente, mas avisou “não vai ser caro e nem importado”.

É, segundo a visão acima, parece que, o mercado econômico brasileiro, não está para “brinquedo”  no próximo Dia da Criança”, como observou o superintendente de economia da Associação Comercial de São Paulo Marcel Solimeo, que já projeta o próximo Natal. “Se o dólar continua subindo o natal  do trabalhador brasileiro vai ser salgado e amargo”, advertiu.

Previsão para o comércio

Solimeo considera que, do ponto de vista do comércio, há  um certo otimismo na expectativa das vendas, mas pondera que o próprio comerciante, principalmente do setor de brinquedos, sabe que a situação não está fácil para o consumidor. “ Nos últimos anos, isso já vem caindo e esse ano em relação ao ano passado, vai ser menor com uma queda de 3%", contabiliza o economista.

Esse percentual está atrelado a atual situação econômica pela qual, vive o Brasil no momento, juntando com a alta do dólar e perspectivas negativas em vários setores. “Renda crescendo menos, crédito alto, juros a patamares impossíveis”, aponta o economista.

Solimeo pondera que a alta do dólar nos últimos dias ainda não foi repassada para o valor das mercadorias importadas nos setor comercial porque, para o Dia das Crianças, ele acredita que o comerciante de brinquedos importados, já tenha feito a compra e efetuado o estoque - antes  subida da moeda norte-americana. “Mas se isso acontecer, obviamente vai encarecer mais ainda os produtos e ficar mais difícil as vendas”, alerta ele.

O economista Marcel Solimeo alerta também que, neste próximo Dia das Crianças, os valores estarão altos e os “presentes serão caros” em relação ao preço alto em R$ (reais), que estará as mercadorias em nas prateleiras. Isso porque, na observação dele, não tem como o comerciante não aumentar os preços de suas mercadorias diante de tanta taxa alta de juros e impostos que o governo impõe a todos.

Expectativa dos comerciantes

Caminhando  de encontro ao que o economista Marcel Solimeo disse, o empresário do ramo de brinquedos na rua e região da 25 de março, Marcelo Mouawad, diz que o otimismo existe, mas a realidade é outra e tem preço. “De oitenta a cem reais, e olha que estou sendo otimista. Essa a nossa perspectiva de gastos dos pais com cada brinquedo que vão comprar para seus filhos neste Dia das Crianças de 2015. Comparado aos outros anos, acabou o tempo em que os pais compravam brinquedos de duzentos, trezentos ou até mesmo de quinhentos reais ou mais”, ressalta ele, lembrando dos bons tempos em que a economia estava positiva.

E olha que, para que essa expectativa dos oitenta a cem reais se tornar realidade, o setor, bem como suas empresas, estão investindo em um exercício imenso de marketing em promoções, que estão tendo de tomar cuidado para não ter perda total nas vendas. “É mais promoção, vendendo mais barato com margem de lucro menor. Mas temos que tomar cuidado com isso, para não ter queda no faturamento e nem nos lucros”, alerta o empresário.

Além dessa crise, segundo ele, tem mais um agravante, ele observou, como empresário do setor de brinquedos, que nos últimos anos, os brinquedos mesmo, perderam terreno para os eletroeletrônicos e celulares. “O mercado de brinquedos mesmo vem se achatando a cada ano, porque a criança de hoje não quer saber mais deles, quer saber dos eletroeletrônicos, que também já teve sua fase alta. Mesmo assim, ainda é preferência”, adverte.

Mesmo os eletroeletrônicos sendo a preferência, e ele comercializa esses produtos importados em suas lojas, Mouawad admite que não vai repassar esse aumento do dólar para os produtos importados na sua rede de lojas, porque se fizer isso, não consegue vender nem o pouco que se espera de vendas desses produtos. “Não vai ser um Dia das Crianças de lembrancinhas, mas de presentes baratos”, anuncia.

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