USP Leste tem ofensas racistas escritas no banheiro
Por Luís Adorno/RedeTV!A USP Leste (Universidade de São Paulo), que fica no bairro do Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital, amanheceu nesta quarta-feira (25) com ofensas racistas em um dos banheiros da instituição. Em uma privada, foi escrito “odeio gays e negros” e também “Fora macacos. Lugar de negro é na senzala”.
A imagem da ofensa racista foi divulgada em quase todos os grupos da USP Leste no Facebook e causou repúdio de todos os alunos da unidade. “O cartaz da EACH (USP Leste) é a diversidade e a interação entre essa diversidade. Incrivelmente, parece que tanto a direção anterior quanto alguns estudantes esqueceram de ler o programa da EACH antes de se matricularem”, afirma uma estudante que postou a foto em seu Facebook.
Procurada, a Universidade de São Paulo lamentou o ocorrido. “A Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP lamenta o ocorrido e repudia toda manifestação ou ato que implique em discriminação de gênero, raça, etnia, cor, orientação sexual e qualquer outro tipo de ação discriminatória dentro e fora da Universidade”, afirmou em nota enviada ao portal da RedeTV!.
“Desde sua fundação, a Escola sempre se preocupou com os direitos humanos e os tem como temática central do Ciclo Básico, por meio da disciplina Sociedade, Multiculturalismo e Direitos, que é cursada por todos os alunos da EACH”, complementa a nota oficial da instituição.
Enegrecer a USP-Leste. Racistas não passarão. - texto escrito pelo coletivo negro da USP Leste
“Essa semana, no sanitário masculino do terceiro andar do prédio I1 (Titanic), o companheiro Adolpho Mayer encontrou a seguinte frase escrita em um dos vasos sanitários: odeio gays e negros, fora macacos, lugar de negro é na senzala.
Esse não é o primeiro caso de expressão de racismo na EACH, recentemente, a companheira Biamichelle Munduruku teve que ouvir do ex-vice diretor da EACH e professor e exercício, Edson Leite, que deveria ir "se lavar", em alusão ao seu tom de pele que, para ele, seria sujeira.
A USP-Leste tem como principal proposta ligar a Universidade de São Paulo à Zona Leste, juntar o desenvolvimento do conhecimento com o desenvolvimento da região, trazendo pra dentro da USP quem é da ZL. Além disso, sendo Escola de Artes, Ciências e Humanidades, de acordo com a proposta divulgada pela mesma, o cartaz da EACH é a diversidade e a interação entre essa diversidade.
Incrivelmente, parece que tanto a direção anterior quanto alguns estudantes esqueceram de ler o programa da EACH antes de se matricularem.
A característica básica da USP é seu ar elitizado. Quantos dos professores, ao ingressarem na USP-Leste não pensaram que viveriam à lá Butantã? Quantos dos estudantes que prestaram o vestibular e se matricularam na EACH não acreditavam que viveriam o ambiente da USP-Butantã? Queridos, bom dia, aqui é Zona Leste. Aqui é EACH. E se muitos de vocês não viram nem viveram os efeitos da desigualdade, a hora é agora.
A frase no banheiro surpreende mas não assusta. Num momento onde a USP-Leste recebe um grande número de estudantes negros e gays para matrícula, não é de se espantar que alunos brancos/héteros e ignorantes sintam-se ameaçados em seus "próprios espaços". É difícil para o branco que sempre viu o negro em posições subalternas (limpando o seu banheiro, fazendo a sua comida, cuidando do seu carro) aceitar que o espaço universitário também pertence, e cada vez mais, ao estudante negro.
Nós entendemos sim, que o estudante branco, hétero e ignorante, apesar do seu status social, ainda não conseguiu aprimorar as habilidades básicas do ser humano para viver em sociedade, e mais, apesar de todo o dinheiro e pele clara, não obteve uma educação de qualidade, pois, acredita e reproduz a ideia de que as diferenças não devem ser valorizadas mas sim excluídas.
Digo à vocês, com o pouco de conhecimento sobre história que tenho: LUGAR DE NEGRO É EM TODO LUGAR. LUGAR DE NEGRO É ONDE ELE QUISER ESTAR. E não é você, branco racista, quem decide. Foi da força dos negros, de dentro das senzalas, de dentro dos navios negreiros, que surgiram as cidades brasileiras, a economia e as famílias brancas, então, parceiro, não me diga onde meu povo e eu deveríamos estar, o seu lugar a gente sabe, e se você soubesse mostraria seu rosto, ao invés de querer ser o certo através do anonimato.
O Movimento Negro na EACH só tem a agradecer pelas manifestações racistas que aparecem cada vez mais, pois, quanto mais sintomas visíveis tem a doença, mais fácil fica de escolher o remédio. Racistas não passarão, homofóbicos não passarão. A USP-Leste VAI ficar preta, VAI ser gay. E se os senhores e as senhoras, brancos e héteros, querem privilégios, voltem pra casa, porque os daqui estão acabando.
E, aproveitando o ensejo, convido todos os estudantes que compreendem o valor da diversidade a pensarem no tipo de universidade e sociedade que desejam estar. Convido, especialmente, os estudantes negros e negras da EACH-USP para nos juntarmos e pensarmos no que queremos para dentro e para fora da universidade.
Pretos, não se calem, não se escondam, a realidade é outra.
A Zona Leste vai invadir a USP.
A negritude vai tomar a USP.
Lugar de negro é em todo lugar!”
Por diversas vezes, a reportagem da RedeTV! tentou contactar Edson Leite, mas ele jamais aceitou falar sobre o caso de racismo denunciado.
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