Intervenção no Rio pode surtir efeito no início, mas problema precisa de plano a longo prazo, dizem especialistas
Luiz Anversa/RedeTV
Temer oficializa a intervenção no Rio (Foto: ABr)
A intervenção do governo federal na segurança pública do Rio de Janeiro foi algo inédito em nossa história. A primeira desde a promulgação da atual Constituição, de 1988.
A partir de agora, a segurança do Rio será gerida pelas Forças Armadas. Pagamento de salários, equipamentos, enfim, tudo relacionado ao setor sairá do Palácio das Laranjeiras e estará sob responsabilidade do Palácio do Planaçto. O custo dessa operação, no entanto, não foi divulgado pelo governo de Michel Temer.
O ato da intervenção, que num primeiro momento deve envolver 30 mil homens de todas as forças federais, divide opiniões de especialistas.
Para Jorde Lordello, comentarista de segurança da RedeTV! e apresentador do programa Operação de Risco, "o Rio de Janeiro vem sofrendo um sucateamento no aparato policial desde o fim das Olimpíadas, em 2016". "No Carnaval deste ano foi o caos absoluto", completou.
Ele apontou que 843 áreas da cidade são dominadas pelo tráfico e oito facções criminosas dão as cartas na bandidagem por lá. "O problema do Rio de Janeiro é diferente dos outros Estados. Lá, existe uma ocupação geográfica praticada pelo crime. Nos outros Estados, o problema é mais no sistema penitenciário", explicou.
Já José Luiz Ratton, professor e pesquisador do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, criticou a ausência, por parte do governo federal, de uma estratégia de segurança pública nacional. "Em áreas como Saúde e Educação, por exemplo, existe uma política pública, coisa que não acontece na segurança", argumentou.
Ratton classificou como "imediatista e marqueteiro" o ato da intervenção no Rio. Sobre o uso das Forças Armadas, ele foi categórico: "Elas não têm condições para ajudar nisso. Foram treinadas para a guerra, e não para a segurança pública. Pode até surtir um efeito positivo no início, mas a criminalidade consegue se adaptar a situações adversas e as condições podem piorar no futuro." Essa piora, para o pesquisador, viria na forma de um "efeito México" - quando os cartéis de drogas passaram a contar com membros vindos das Forças Armadas.
Jorge Lordello acredita que o uso do Exército pode ser positivo no sentido de "tomar territórios dos criminosos" e lembrou da dificuldade que alguns setores da economia estão tendo com a crise na segurança do Rio. "O roubo de carga é muito grave. As entregas de carne, por exemplo, estão sendo feitas em carros blindados", falou.
E qual a solução para o Rio de Janeiro? José Luiz Ratton vê na atuação de uma polícia integrada, regras claras de financiamento para o setor e uma estratégia de segurança pública, com a participação efetiva de Estados, cidades e comunidades, como uma saída.
Lordello disse que a intervenção pode melhorar a situação no curto prazo, mas que o "tratamento desse processo cancerígeno precisa ser a longo prazo". "Esse processo precisar dar certo. Usar o Exército é a última trincheira do governo na segurança pública", analisou.