Blogueira plus size sobre obesidade: "Se aceitar não significa deixar de se cuidar"

A blogueira Paula (Foto: Reprodução/Instagram)

Há anos ouve-se falar sobre os padrões de beleza impostos pela sociedade e já há algum tempo a própria sociedade vem tentando quebrar esses conceitos pré-estabelecidos, como, por exemplo, o de que magreza é sinônimo de beleza. Na onda de despadronizar concepções, centenas de homens e mulheres passaram a utilizar a internet como um meio para expor opiniões e fazer de suas redes sociais ou websites vitrines nas quais a exposição parte principalmente da premissa do amor próprio. É o caso da jornalista e blogueira plus size Paula Bastos, que passou pelo menos 30 anos de sua vida acreditando que havia algo de errado com ela por estar acima do peso.

"Meu processo de aceitação demorou bastante para acontecer. Ele começou a desabrochar quando criei o blog, em 2009, e foi nessa época que percebi que as coisas não davam para continuar como estavam. Cresci sem representatividade, achando que havia algo de errado comigo e pensando que não teria uma boa carreira porque minha aparência influenciaria em tudo", conta ela em entrevista ao Portal da RedeTV!.

O caminho até a autoaceitação não foi fácil, mas ver histórias de outras mulheres a ajudou a olhar para si com outros olhos. "Fui vendo que sim, eu poderia ser feliz, amada, bem sucedida e que eu era bonita e capaz. Costumo dizer que esse processo dura a vida inteira. Todo santo dia a gente descobre uma coisa nova e tem que lutar contra algo, lembrando que nosso valor e capacidade não estão em nossa aparência. É uma luta diária", compartilha Paula.  

Embora criar o blog Grandes Mulheres e estar na internet a tenha ajudado, ela ressalta o lado negativo de estar na web e diz que nem sempre é fácil lidar com as críticas. "Tem gente que acha isso um absurdo. Que pensa que a gente tinha que tomar vergonha na cara e emagrecer, porque é assim que as pessoas enxergam, que simplesmente você é gordo porque come demais. Então é complicado, mas, graças a Deus meus canais estão sendo usados para ajudar as mulheres e sinto que tenho tido êxito nessa missão". 

Atualmente com 35 anos e mais de 700 mil seguidores em suas redes sociais, Paula opina sobre a 'romantização da obesidade' e reforça a ideia de todo mundo é capaz de fazer o que quiser e estiver ao alcance. "Muita gente acha que fazemos apologia a obesidade. É o que sempre falo para minhas leitoras: 'se você quer emagrecer e isso vai te fazer feliz ou se sua saúde está complicada, vá em frente e emagreça, mas não vá fazer nenhuma loucura em nome disso'. As pessoas confundem, se aceitar não significa deixar de se cuidar. Quando a gente fala em aceitação, a gente fala sobre a pessoa entender que o corpo dela nao é limitado a nada. Uma pessoa gorda pode, sim, ser absoltamente saudável, ela pode praticar exercícios físicos, pode não ser sedentária, pode fazer pole dance, correr uma maratona, nadar, pode fazer absolutamente qualquer coisa", pontua ela, que ainda finaliza: "Magreza não é sinônimo de saúde, nem de felicidade eterna".

 De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 1,9 bilhão de adultos têm sobrepeso, sendo, desses, 600 milhões com obesidade e, segundo estudos publicados na revista científica Lancet, nos últimos 30 anos nenhum país conseguiu elaborar estratégias para reverter o quadro da obesidade de forma consistente.

Formada pela Universidade de São Paulo (USP), a nutricionista Dra. Vanessa Prieto ressalta a importância de cuidar da saúde e comenta os riscos que o excesso de peso pode trazer para as pessoas. "Sempre que temos um quadro de obesidade, temos também células e tecidos inflamados, ou seja, que não estão em seu perfeito funcionamento. Dessa forma, o organismo começa a entrar em colapso e o risco aumenta muito para doenças cardiovasculares, distúrbios psicológicos, complicações respiratórias e gastrointestinais, diabetes, dores nas articulações e diminuição da disposição", diz.

Marcelo Sena, 29 anos, e sua noiva, Camila Sezoski (Foto: Reprodução/Facebook)

O cozinheiro e mais novo youtuber Marcelo Sena, de 29 anos, mede 1,76m e atualmente pesa cerca de 200 kg. Embora hoje em dia encare a obesidade e o preconceito de maneira mais tranquila e não tenha nenhum grande problema de saúde, para ele, "a obesidade não é algo bonito". "Não temos a mesma disposição que uma pessoa com o peso ideal tem. O obeso vive uma vida de risco em relação a saúde. Hoje sem conseguir andar, amanhã pode ter um infarto. Creio que seja uma ilusão dizer: 'ah, sou gordo, mas sou feliz'. A pessoa pode até ser feliz em muitas coisas, mas não por completo", desabafa o paulista, que ainda compartilha um de seus problemas: "Vivemos constantemente com alguns medos e constrangimentos. Você vai à algum restaurante ou lugar que seja público e sai de casa torcendo para que lá tenha uma cadeira aberta que caiba você. Uma pessoa assim não consegue ser feliz o tempo todo".

Consciente das dificuldades por quais passa constantemente, Marcelo reconhece os maus hábitos que possui e diz que uma vida ideal seria "sem dores nas costas, pernas e sentindo menos cansaço". "Sempre me aceitei do jeito que sou, apesar de viver na defensiva, mas eu teria que mudar radicalmente minha rotina alimentar e sair do sedentarismo. Voltar a treinar, fazer exercícios diariamente e seguir uma dieta regrada. Largar os velhos hábitos e aprender novos, que sejam mais saudáveis", declara.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, a cada ano há 1 milhão de novos casos de obesidade no país e a cada 15 anos dobra a taxa de casos. Neste último sábado (7) celebrou-se o Dia Mundial da Saúde e, após classificar a despadronização da sociedade como algo "necessário", a nutricionista, no entanto, faz um alerta: "Temos que tomar cuidado para não cair no extremo oposto e simplesmente as pessoas pararem de se cuidar. O que define quem você é não é o peso que você tem e não há uma régua que o enquadra no correto ou no errado, mas temos que enxergar que ainda é preciso olhar com atenção para o organismo. A alimentação é mais do que a base para uma vida mais saudável, feliz e com mais disposição, ela também é a semente das próximas gerações".

A blogueira Paula (Foto: Reprodução/Instagram)

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