Novembro Azul: mulheres trans e travestis também precisam se proteger contra o câncer de próstata
Julia Ogeia com supervisão de Ana Martins/ Redação RedeTV!Mês da prevenção contra a doença não se limita apenas aos homens acima dos 45 anos
(Foto: Freepik)
Mês mundial de combate ao câncer de próstata, o ‘Novembro Azul’ surgiu com o objetivo de sensibilizar e conscientizar as pessoas com próstata em relação aos cuidados com a saúde e prevenção contra a doença.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), um em cada nove homens receberá o diagnóstico do tumor ao longo de sua vida, sendo que a cada 41 homens, pelo menos um morrerá de câncer de próstata. O órgão ainda classifica a doença como relativa a ‘terceira idade’, uma vez que 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos, embora não se limitem a essa faixa etária.
O alerta para a doença não se restringe apenas para homens cisgêneros. É importante ressaltar que travestis e mulheres trans também precisam estar atentas aos riscos. Isso porque, mesmo entre aquelas que passaram pela cirurgia de redesignação de sexo, a próstata geralmente não é retirada. Segundo Marcelo Magalhães, urologista especialista em saúde LGBT+, a retirada dessa glândula tecnicamente não é muito vantajosa e pode levar a comorbidades e complicações para além da cirurgia.
Dessa forma, seguindo as mesmas recomendações para homens cisgênero, as mulheres transexuais e travestis devem realizar o rastreamento do câncer a partir dos 45 anos, em casos onde já existe histórico familiar da doença, ou a partir dos 50, para a população geral.
O urologista membro da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Alex Meller, explica que o diagnóstico do câncer de próstata é feito através do exame de sangue Antígeno Prostático Específico (PSA) em associação ao toque retal. Por geralmente não apresentar sintomas em sua fase inicial, o mais indicado é que as pessoas com próstata façam check-ups anuais para acompanhar o surgimento de qualquer anormalidade.
“O câncer costuma dar sintomas quando ele é diagnosticado mais tardiamente. O fator de risco principal é genético, muito geralmente é familiar. E ele pode ter uma evolução mais grave se o paciente tem outros problemas de saúde, especialmente relacionados a aumento de colesterol, doenças cardiovasculares, tabagismo e diabetes”, explica o especialista.
O médico ainda reforça que, nos estágios iniciais, o tratamento é feito com a retirada total da glândula com cirurgia radical e “também, muitas vezes, com a retirada dos gânglios que envolvem a glândula para remover todas as células tumorais.”
No caso de mulheres trans e travestis, as chances de serem afetadas pelo câncer de próstata tendem a diminuir, especialmente entre aquelas que fazem a hormonização ou as que passaram pela cirurgia de redesignação de sexo. Marcelo Magalhães explica que isso acontece nos casos onde ocorre a retirada dos testículos, porque as mulheres deixam de estar sob a influência do testosterona, que “funciona como se fosse um combustível para o câncer de próstata e para o crescimento da próstata, mesmo que benigno.”
“A ausência de testosterona deixa a próstata um pouco mais inerte. Mas ainda assim existe a chance de câncer. Inclusive, apesar do número de cânceres serem menores, quando ele acontece ele costuma ser um pouco mais grave, mais agressivo, justamente porque esse câncer se manifesta como independente de testosterona”, reforça o médico.
Vale lembrar que o que protege contra a doença é a ausência da testosterona e não o uso do hormônio feminilizante, os famosos antiandrogênicos que inibem a ação do hormônio.
Inclusão
Apesar de ser um problema que não afeta apenas homens cisgênero, ainda é raro encontrar campanhas públicas sobre o câncer de próstata voltadas à população LGBTQIA+.
“Ainda hoje existem falta de campanhas públicas voltadas a prevenção, à saúde de pessoas trans e travestis de uma forma geral, não só com relação ao câncer. O câncer em especial, porque primeiro não se lembram que mulheres trans e travestis também tem próstata e segundo porque infelizmente ainda hoje é uma população muito negligenciada”, admite o urologista especialista na saúde desses grupos.
Justamente por isso, é muito difícil encontrar números que correspondam a quantidade de mulheres transexuais e travestis afetadas pela doença. Contudo, isso não significa que elas não existem e não tem suas próprias demandas.
“Com base na minha experiência como médico, existe a demanda de cuidados urológica de mulheres trans e travestis, mas mais uma vez falta acesso, falta informação. Muitas mulheres trans e travestis desconhecem essa necessidade de rastrear o câncer de próstata, desconhecem os cuidados as vezes básicos de higiene com o pênis. Então, de uma forma geral, existe sim uma falta de acesso e os números são muito baixos. Eu particularmente atendo poucas mulheres trans e travestis para rastreamento, porque a maior parte delas realmente desconhece ou não está na idade, ou não tem acesso ao atendimento”, conta Marcelo.
Dessa forma, elucidar e trazer campanhas inclusivas é essencial para que todas as pessoas com próstata tenham o direito de se proteger contra o câncer.
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