Tarciana Medeiros fala da representatividade em ser a primeira mulher na presidência do Banco do Brasil

“Nós temos espaço, nós temos lugar de fala, em que é possível sermos excelentes profissionais”, diz a presidenta do BB

(Foto: Divulgação)

Nesta quinta-feira (12), o “É Notícia” recebeu a primeira mulher a ocupar a presidência do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. No dia em que o banco completou 205 anos, a presidenta, como prefere se referir ao cargo, falou sobre ser a pioneira a frente da instituição. 

Tarciana tomou posse em 16 de janeiro, em cerimônia no CCBB Brasília, após 22 anos trabalhando no banco. “Confesso que até assumir o cargo de presidenta do Banco do Brasil, não tinha ideia do poder da representatividade. Junto com o cargo, vem toda a representatividade de ser quem eu sou. Mulher, negra, nordestina, LGBT, mãe de três filhos, trouxe uma voz e deu eco a muitas vozes que percebi não ter lugar de fala. Para mim, é muito especial, mas tenho consciência da responsabilidade de dar voz aos colegas LGBT, do banco, inclusive”, destacou. 

Para a pioneira, sua representatividade pode ser exemplo para outras mulheres. “Nós temos espaço, nós temos lugar de fala, em que é possível sermos excelentes profissionais, ocupar cargos importantes, mas sem deixar de ser quem somos. Eu nunca deixei de ser quem eu sou!” 

O Banco do Brasil é o principal agente financeiro do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), disponibilizando soluções para o desenvolvimento sustentável. Tarciana enalteceu a agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos do país, e disse que o banco vem quebrando recordes em distribuição de crédito para o setor. “2023 tem sido um ano de recordes no agronegócio e na agricultura familiar. Estamos indo muito bem! Em 2023, nos nove primeiros meses, já fizemos 12% mais do que em 2022. Que tinha sido um recorde de safra (…) Em nove meses distribuímos crédito em mais de 4.009 municípios, quase 97%, capacidade de chegar na ponta. Aumento de 23% na agricultura familiar, isso são 67.000 famílias. Quando falamos de linha de crédito para custeio da produção, são 140 bilhões nesse ano, resultado expressivo.”

Além da linha de crédito para agricultura, o Banco do Brasil iniciou na última segunda-feira (9) a Faixa 1 do Desenrola Brasil, programa criado pelo governo Lula para renegociação de dívidas. Assim como ministro Fernando Haddad, Tarciana também classifica o programa como um enorme sucesso.

“Considero um grande sucesso. É um legado que esse governo vai deixar para o país (…) Não vai acabar, pode mudar premissas, mas acredito que o programa fique para depois. O Desenrola é um grande movimento do sistema financeiro no retorno à dignidade financeira das pessoas. Foi criado ouvindo o mercado, buscando conciliar o que o governo precisava fazer. Foi criado ouvindo todas partes”, considerou a presidenta. 

Inspirado no programa, a instituição criou o Desenrola BB, com outras linhas de crédito para negociar dívidas. Tarciana revelou que o banco já negociou 13 bilhões.  “É muito bom negócio para o banco. Para todo o sistema financeiro. A partir do momento que cliente recupera o nome, ele volta para economia, para o mercado.”

Em questão de habitação, o Banco do Brasil também mantém os financiamentos de imóveis por meio do programa Minha Casa Minha Vida. A presidenta comentou que a instituição tem como foco os imóveis que pretendem retornar obras, sendo uma parceria complementar com a Caixa. “No BB estamos tratando do MCMV, mas de forma muito direita em empreendimentos que estavam parados, porque são muitos. Estamos muito focados em retomar obras e entrega. Caixa está responsável por novas obras. Estamos atuando de forma complementar”, afirmou Tarciana.

Recentemente, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou inquérito civil público para investigar a relação entre o Banco do Brasil e o tráfico de pessoas negras escravizadas no século XIX.  Em resposta ao questionamento feito por Kennedy Alencar, a presidenta revelou que estão preparando as informações solicitadas. Tarciana ainda lamentou a história e destacou a importância da discussão no banco, que assumiu compromissos voltados a igualdade social, inclusive, se tornando embaixador de três movimentos do Pacto global da ONU. 

“Lamentamos muito a escravidão. Capítulo mais triste da nossa história e da humanidade. É algo que nos reduz como sociedade, enquanto seres humanos. O banco está à disposição do MP, mas para mais que isso, temos que trazer reflexão sobre esse ponto, é um momento muito propício e o banco não se furta”, comentou.

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