"A principal conquista do feminismo é a crítica da identidade da mulher", diz Margareth Rago
Camila Martins/RedeTVi
Margareth Rago é professora do Departamento de História da Unicamp e atua dentro do movimento feminista. Em entrevista exclusiva ao Portal RedeTVi, a professora fala sobre as conquistas do movimento e quais as contribuições efetivas que ele trouxe rumo a emancipação da mulher.
RedeTVI: O Dia Internacional da Mulher tomou ares de comemoração, inclusive o mercado aproveitou dessa brecha para se apropriar da data. E para você, qual é o significado desse dia?
Margareth Rago: Podemos pensar o Dia Internacional da Mulher sobre diversos ângulos, e hoje quero ressaltar o lado das conquistas e transformações que o feminismo trouxe. Claro que ainda existe violência doméstica, o aborto continua criminalizado, as mulheres continuam com salários mais baixos e ainda vivemos em um mundo que a cultura do homem prevalece, mas estamos em um momento que a feminização do mundo está interferindo diretamente nesta cultura.
A principal conquista do feminismo é a crítica da identidade da mulher. Tal crítica mostrou que a mulher não nasceu exclusivamente para ser mãe, para ocupar o âmbito privado, mas que isso não passa de uma construção machista do século XIX que afetou muitas gerações.
O feminismo dos anos 60 rompeu com essa “identidade biológica”, reverteu a noção de maternidade, que antes condenava a mulher a ser assexuada, e também trouxe a figura feminina para o lugar público, ao lado dos homens.
RedeTVi: E no Brasil, quais são as suas principais conquistas?
Margareth Rago: O feminismo brasileiro conseguiu o que nenhum outro conseguiu, a transformação da cabeça do homem. Claro que ainda vivemos com violência e desigualdades, mas o homem brasileiro é muito mais aberto para as ideias feministas do que o europeu, por exemplo. Podemos pensar o feminismo como um movimento de ideias, práticas e atitudes que tem como fim a emancipação e libertação da mulher, assim, podemos encontrar homens feministas e mulheres com cabeças machistas.
Outra grande conquista são os cursos de capacitação de Promotoras Legais Populares, promovidos pela União de Mulheres de São Paulo, entidade fundada em 1981, que formam mulheres para conhecer a lei e divulgá-las nas suas comunidades. Não é a toa que hoje o Brasil tem muitas advogadas feministas que mostraram para todos como a lei é machista. Até pouco tempo atrás um homem que matava a sua mulher não era condenado e ainda dizia que matou por culpa da própria mulher.
RedeTVi: Nas próximas eleições vamos ter duas candidatas à Presidência da República. O Brasil está preparado para isso? Acredita que pode ser um marco como a eleição do Lula, ou do Obama?
Margareth Rago: Já está mais que na hora de termos uma Presidente. As mulheres estão ocupando cargos altíssimos por aí, por que não mais esse? Preconceito não é impedimento.
A Dilma é uma mulher extraordinária, forte, foi guerrilheira, militante, está envolvida com o processo de transformação social, venceu um câncer. Também reconheço a luta da Marina Silva. A eleição de uma delas será mais um marco simbólico.
RedeTVi: O que deve ser lembrado no próximo dia 8 de março?
Margareth Rago: Que precisamos trabalhar para construir um mundo filógino, que ame as mulheres, dando mais importância para os sentimentos e emoções; e pensar naquelas que estão sofrendo punições e são vítimas de atitudes misóginas, ou seja, que tem ódio de tudo aquilo que é feminino.
RedeTVI: O Dia Internacional da Mulher tomou ares de comemoração, inclusive o mercado aproveitou dessa brecha para se apropriar da data. E para você, qual é o significado desse dia?
Margareth Rago: Podemos pensar o Dia Internacional da Mulher sobre diversos ângulos, e hoje quero ressaltar o lado das conquistas e transformações que o feminismo trouxe. Claro que ainda existe violência doméstica, o aborto continua criminalizado, as mulheres continuam com salários mais baixos e ainda vivemos em um mundo que a cultura do homem prevalece, mas estamos em um momento que a feminização do mundo está interferindo diretamente nesta cultura.
A principal conquista do feminismo é a crítica da identidade da mulher. Tal crítica mostrou que a mulher não nasceu exclusivamente para ser mãe, para ocupar o âmbito privado, mas que isso não passa de uma construção machista do século XIX que afetou muitas gerações.
O feminismo dos anos 60 rompeu com essa “identidade biológica”, reverteu a noção de maternidade, que antes condenava a mulher a ser assexuada, e também trouxe a figura feminina para o lugar público, ao lado dos homens.
RedeTVi: E no Brasil, quais são as suas principais conquistas?
Margareth Rago: O feminismo brasileiro conseguiu o que nenhum outro conseguiu, a transformação da cabeça do homem. Claro que ainda vivemos com violência e desigualdades, mas o homem brasileiro é muito mais aberto para as ideias feministas do que o europeu, por exemplo. Podemos pensar o feminismo como um movimento de ideias, práticas e atitudes que tem como fim a emancipação e libertação da mulher, assim, podemos encontrar homens feministas e mulheres com cabeças machistas.
Outra grande conquista são os cursos de capacitação de Promotoras Legais Populares, promovidos pela União de Mulheres de São Paulo, entidade fundada em 1981, que formam mulheres para conhecer a lei e divulgá-las nas suas comunidades. Não é a toa que hoje o Brasil tem muitas advogadas feministas que mostraram para todos como a lei é machista. Até pouco tempo atrás um homem que matava a sua mulher não era condenado e ainda dizia que matou por culpa da própria mulher.
RedeTVi: Nas próximas eleições vamos ter duas candidatas à Presidência da República. O Brasil está preparado para isso? Acredita que pode ser um marco como a eleição do Lula, ou do Obama?
Margareth Rago: Já está mais que na hora de termos uma Presidente. As mulheres estão ocupando cargos altíssimos por aí, por que não mais esse? Preconceito não é impedimento.
A Dilma é uma mulher extraordinária, forte, foi guerrilheira, militante, está envolvida com o processo de transformação social, venceu um câncer. Também reconheço a luta da Marina Silva. A eleição de uma delas será mais um marco simbólico.
RedeTVi: O que deve ser lembrado no próximo dia 8 de março?
Margareth Rago: Que precisamos trabalhar para construir um mundo filógino, que ame as mulheres, dando mais importância para os sentimentos e emoções; e pensar naquelas que estão sofrendo punições e são vítimas de atitudes misóginas, ou seja, que tem ódio de tudo aquilo que é feminino.