Brasileiros na Europa sobre coronavírus: "Pior parte é não saber quando vai acabar"
Gabriel Siqueira Lopes/RedeTV!O Portal da RedeTV! conversou com brasileiros que vivem na Itália, Espanha e Portugal e relatam dia a dia durante pandemia do coronavírus
Cidade espanhola de Logroño vazia durante pandemia (Foto: Arquivo Pessoal/Juan Ramon Alberich Cheffer)
Longe de casa, brasileiros que ultrapassaram fronterias étnicas, culturais e profissionais para viver na Europa, agora, precisam enfrentar a crise de saúde provocada pela pandemia de coronavírus. O novo epicentro mundial da doença já registrou mais de quatro mil mortes, nossos compatriotas que vivem por lá conversaram com o Portal da RedeTV! e foram categóricos: Ninguém esperava que a situação chegasse a esse ponto.
"Pior parte é não saber quando vai acabar", esse é um relato que também foi muito ouvido pela reportagem. Nossos entrevistados vivem na Itália, Espanha e Portugal,e relataram como a rotina deles mudou com a chegada do Covid-19 e quais são as expectativas para o futuro.
Itália
O curitibano Pedro Basile, de 27 anos, vive na Itália (Foto: Reprodução/Facebook)
O engenheiro mecânico Pedro Basile, de 27 anos, tenta seguir com a vida na cidade de Milão, na região da Lombardia, que sofre com mais de 19 mil casos de coronavírus. O curitibano chegou há sete meses no país para fazer uma especialização em design de produto, mas, desde o começo do mês, todo o expediente universitário está sendo feito de forma online.
O primeiro contato de Pedro com o coronavírus foi por Milão ter "uma parcela da população de ascendência chinesa" e, por isso, as notícias sobre o coronavírus chegaram de forma rápida em seus ouvidos. "Existia uma preocupação, mas era uma sensação de que não chegaria até aqui, que estava longe", afirmou.
Depois da explosão de casos, Basile diz que a percepção mudou. "O povo está preocupado, todas as pessoas estão trabalhando de casa e para se locomover na rua, você precisa de um motivo e uma autorização escrita", afirmou o engenheiro que também disse que "desde a semana passada, todos os tipos de atividades que tenham público foram fechadas. Só abrem lugares essenciais", como supermercados e farmácias.
Sobre a quarentena obrigatória, o jovem diz que sai de casa "eventualmente para ir ao mercado", mas que segue as recomendações de isolamento. "Algo interessante que tem acontecido na Itália inteira, desde sexta-feira passada, são que todas as pessoas saem nas janelas, pontualmente às 18h, tocando algum tipo de música. Esse é um ponto positivo para esse cenário", concluiu.
A Itália é o país que mais sofre, atualmente, no mundo por conta do coronavírus. Dados do governo italiano mostram que existem mais de 41 mil pessoas infectadas em território italiano e mais de três mil pessoas já morreram.
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Espanha
A escalada do coronavírus na Espanha também foi repentina. "Há duas semanas havia apenas um burburinho sobre o que viria", afirmou o paulistano Juan Ramon Alberich Cheffer, de 34 anos, que vive em Barcelona desde setembro de 2018.
O profissional de TI estava fazendo o famoso caminho de Santiago de Compostela e conta que deixou sua casa antes da pandemia ser decretada, mas em poucos dias tudo mudou. "Após quatro dias caminhando, chegamos em uma cidade pequena do interior e os albergues estavam fechados. Fomos na delegacia de polícia e o delegado nos mandou ir pra casa. Disse que se não voltássemos pra casa imediatamente, ficaríamos presos na cidade e não conseguiríamos voltar e que, se fossemos pegos, seríamos multados".
O paulistano Juan Cheffer, de 34 anos, vive desde 2018 na Espanha (Foto: Arquivo Pessoal/Juan Ramon Alberich Cheffer)
Juan planejava há 15 anos essa viagem e, segundo ele, no grupo em que estava tinham dois americanos que precisaram voltar para os Estados Unidos imediatamente e que um alemão "não pode voltar pra casa porque o estado onde mora proibiu a entrada de pessoas de fora". O resto do espanhóis que estavam juntos voltaram de ônibus para as cidades de origem.
Antes da pandemia, ele já trabalhava de casa em regime "home office" e buscava sair ao menos uma vez ao dia para caminhar, ir ao mercado, tomar sol e etc. Para se informar sobre a doença, a principal fonte está sendo as redes sociais. "Acho que as medidas estão sendo tomadas. Vejo a polícia nas ruas mandando as pessoas pra casa e vejo pessoas nas janelas exigindo que os outros fiquem em casa. Apesar disso, o dia que saí e fui ao mercado fiquei surpreso com a quantidade de pessoas nas ruas", afirmou.
Juan disse que sente que o povo está pessimista por conta das informações desencontradas que vem do governo e que "a pior parte é não saber quando isso irá acabar. O ministro da Saúde já falou que não haveria quarentena, depois que duraria 15 dias e agora já estão falando em até dois meses."
Apesar de caseiro, o paulista está desanimado e "a ideia de não poder sair de casa sob pena de multa e prisão é realmente desesperadora".
A Espanha superava a marca dos 200 doentes na primeira semana de março. Na quinta-feira (19), o governo espanhol confirmou mais de mil mortes pelo Covid-19 e afirmou ter quase 20 mil doentes. O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, alertou que "o mais duro ainda está por vir" e que o número de pessoas nos hospitais pelo coronavírus irá aumentar.
Turistas foram surpreendidos pela pandemia durante famoso caminho de Santiago de Compostela
(Foto: Arquivo Pessoal/Juan Ramon Alberich Cheffer)
Portugal
A rotina da administradora Isadora Barison, de 29 anos, mudou bastante depois da chegada do novo coronavírus ao país: "Entrava no trabalho às 8h e saia às 17h, depois disso ia à academia e fazia algumas coisa na rua". Algo impensável para os dias de hoje.
Há um ano e meio no país, ela e o marido, o economista Lucas Nurches, de 30 anos, não estão muito preocupados com eles, que não estão nos grupos de risco. "Preocupação pessoal ou com amigos não existe, mas com os idosos e com a situação toda do país, sim", afirmou Nurches.
Como os outros entrevistados, o casal não imaginou que o Covid-19 chegaria com tanta força à Europa. "Há duas semana fomos fazer turismo na Espanha, em Sevilla, e tudo estava normal. A pandemia parecia distante", disse a administradora.
Lucas e Isadora durante viagem à Espanha há duas semanas (Foto: Reprodução/Instagram)
Isadora acha que as autoridades estão se comunicando bem com a população durante a crise, mas Lucas diz que "o governo está demorando para responder e tomar as ações necessárias", mesmo com o exemplo italiano.
A crise na saúde não é de hoje em Portugal, antes da chegada do coronavírus, segundo Lucas, o sistema de saúde já estava em discussão. "Já tinham muitas reclamações dos profissionais da saúde que reivindicavam mais estrutura e investimentos e isso vem sendo bem pautado no país", afirmou o economista.
Saúde é só uma parte da crise, o comércio local também já começou a sentir as consequências do coronavírus. "Costumo frequentar um restaurante português que o dono do estabelecimento disse que vai fechar por conta da pandemia e não sabe se irá reabrir. Se ficar um mês ou um mês e meio parado, não ter como aguentar", disse Isadora.
Lucas sente que a população está pessimista e que a parte econômica do país está confusa. "Não há diretrizes bem definidas para a população e negócios locais", disse o economista. "Falta uma coordenação do sistema de saúde e, aparentemente, não há muito leitos. Muitas empresa não pararam, algumas alteraram horário de serviço, mas continuam obrigando os funcionários a irem para o serviço", concluiu.
Para manter a energia positiva, o casal combina com amigos uma espécie de "happy hour" online. Todos estão em cidades europeias que passam por regimes de isolamento ou quarentena, então o jeito é matar a saudade e desestressar pela tela do computador.
Brasileiros fazem "happy hour" online durante quarentena (Foto: Arquivo Pessoal/Isadora Barison)
O governo de Portugal recomenda o "distanciamento social" para "proteger a si e aos outros" por causa da crescente de casos de Covid-19 no país. Nesta sexta-feira (20), o governo divulgou que existem 1020 casos confirmados.
Também foi registrada a sexta morte no país, de acordo com a Direção Feral de Saúde (DGS). A primeira vítima fatal foi um ex-massagista, Mário Veríssimo, de 80 anos, amigo de Jorge Jesus, técnico do Flamengo. São 7732 casos suspeitos.
O presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, declarou Estado de Emergência com o apoio do Parlamento, segundo a imprensa local. Mesmo antes da declaração oficial, muitas empresas já liberaram os seus funcionários para trabalharem de casa e foi divulgado para todos evitem sair na rua.
Avanço do Covid-19
Atualmente há quase 210 mil casos confirmados no mundo e quase nove mil mortes em 168 países, segundo a OMS. A Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece 193 países no mundo, ou seja, 87% do planeta já admite que o vírus ultrapassou suas fronteiras.
O diretor-geral da OMS declarou na sexta-feira (13) que a Europa é o novo epicentro da pandemia de coronavírus. Apesar dos números crescentes e das medidas restritivas no continente, a notícia surpreendeu europeus e estrangeiros que moram por lá.
Com o continente literalmente parado, onde a quarentena obrigatória está sendo decretada em um número crescente de países, governos estão adotando medidas dura. A União Europeia (UE), por exemplo, fechou as fronteiras por 30 dias e deixou cerca de 100 milhões de pessoas confinadas por causa do coronavírus.
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