"O mundo fica mais perigoso com o Trump", analisa Monica de Bolle sobre eleições americanas
Redação RedeTV!Em entrevista ao "É Notícia", a economista abordou o futuro dos Estados Unidos e as relações com o Brasil
(Foto: Reprodução/RedeTv!)
Na última quinta-feira (07), o “É Notícia” abordou a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA e entrevistou Monica de Bolle, economista e pesquisadora do Peterson Institute.
O republicano foi eleito com mais de 290 colégios eleitorais contra 226 da democrata Kamala Harris. Trump também foi o primeiro presidente em duas décadas a vencer tanto nos colégios eleitorais quanto no voto popular, com mais de 73 milhões de votos.
Em entrevista ao Kennedy Alencar, Monica de Bolle analisou o poder de mobilização das campanhas dos candidatos, uma vez que o voto não é obrigatório: “A campanha de Trump teve uma estratégia, principalmente no fim da campanha, de focar num certo grupo demográfico aqui nos Estados Unidos. (...) Ele [Trump] começou a turbinar a campanha para levar o voto masculino.”
“Os democratas ficaram difusamente focados nas mulheres e não fizeram o suficiente, achando que as mulheres naturalmente iam ter uma postura de apoiar Kamala Harris e que o voto latino e o votos dos afro-americanos, tradicionalmente democrata, os democratas não fizeram grandes coisas nesses segmentos demográficos. Eles não são necessariamente democratas por definição, existe um conservadorismo”, prosseguiu a economista.
A pesquisadora chama atenção ainda para o esforço mundial relacionado a política verde e energia renovável. Para Monica, os Estados Unidos devem ficar atrás da Europa e da China, mesmo que o país ainda seja “a principal economia do planeta.”
“Tem uma reorientação geopolítica em andamento, isto está acontecendo. Os Estados Unidos estão perdendo espaço, a China está ganhando espaço, e a União Europeia está fazendo o jogo de tentar se encaixar em algum lugar. Portanto, eles não querem antagonizar ninguém; eles não querem antagonizar os Estados Unidos, e eles não querem antagonizar a China” explicou.
Ainda sobre o assunto, a especialista acredita que o avanço dos Estados em frente a conflitos sobre o clima ficará ainda mais complexo. “O Trump não quer conflito, então ele vai tentar tirar os Estados Unidos dos conflitos que estão ocorrendo no mundo, o que vai deixar a Europa em estado de absoluta vulnerabilidade, pois ela ficará sozinha para enfrentar Rússia e China na questão da Ucrânia.”
“Os europeus já sabiam que isso poderia acontecer e se movimentaram muito rapidamente na transição energética para se desvencilhar da Rússia o mais rápido possível, e estão conseguindo. É muito importante que todos saibam.”, complementou.
Saúde pública e política externa
Sobre a política externa, segundo Monica de Bolle, toda a movimentação de Trump em relação a políticas de saúde serão observadas. “A questão da saúde pública, que afeta o mundo inteiro, e o que o Trump fará, é extremamente relevante.”
“Na política externa também, porque, no final das contas, a pandemia é uma questão de dimensão global. Então, no fim, é preciso coordenação e cooperação — coisas que não vão acontecer. A política externa [dos EUA] não estará voltada para isso. Portanto, a saúde pública também será um problema.”
"Os riscos de as coisas não seguirem os rumos mais ou menos adequados para todos são enormes. O mundo fica mais perigoso com Trump", continuou.
Ela ainda destacou que não acredita em mudanças no comprometimento com a ciência em relação à gestão anterior de Trump. “Evidentemente, o negacionismo estará de volta com força, e é negacionista em todas as esferas, porque estamos falando de negacionismo da ciência”, pontuou.
“Isso terá impacto não só sobre o clima e as características para políticas de adaptação climática e políticas que visem abordar as questões climáticas de forma séria, mas também afetará políticas de saúde pública”, analisou.
O apoio de Elon Musk
Sob o ponto de vista de regulamentação à big techs, a economista disse que o apoio de Elon Musk tem um ponto crucial. “Por que o Elon Musk apoiou o Trump? Porque os democratas queriam regular as empresas de tecnologia. Regular significa "impor restrições", né? Embora seja necessário regular empresas estrangeiras de tecnologia, os democratas deixaram claro que iriam fazer isso. E o que o pessoal da tecnologia fez? Pelo menos esses se organizaram para evitar isso e foram apoiar o Trump, porque ele não vai regular nada, e eles têm a garantia disso.”
“Não é só a empresa do Elon Musk, mas todo o ecossistema de inteligência artificial — que é grande, não pequeno — está morrendo de medo dos democratas, porque eles haviam deixado claro que todo o sistema de IA seria regulado inequivocamente”, prosseguiu.
Relações com o Brasil
Depois de Trump ser considerado eleito, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou à CNN Internacional que o republicano precisa “pensar como um habitante do planeta Terra” colocando a emergência climática como prioridade. Se antes havia uma boa relação com Biden, Lula suplicou que “precisa haver diálogo” entre as nações.
Para Monica, a América-latina como um todo será antagonizada por Trump: “O Lula não é visto como um presidente amigo; o presidente visto como amigo na região é Milei. A América Latina não será prioridade no governo Trump, vamos deixar claro. A América Latina só será prioridade no que diz respeito à política migratória, só. Porque o Trump vai cumprir a promessa de campanha de fazer as deportações que ele prometeu. E quem vai ser deportado? Latino-americanos”, afirmou.