Stalking: saiba como identificar e o que fazer quando se é vítima de perseguição
Caio Fonseca e Evelyn Mendes / Redação RedeTV!Entenda as medidas legais, o perfil mental do stalker e como se proteger nas redes sociais
(Foto: Reprodução/Redes Sociais)
O stalking, termo em inglês que significa perseguição obsessiva, tornou-se um problema crescente no Brasil. Dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania mostram que, de 1º de janeiro a 16 de junho de 2024, foram registradas 1.911 denúncias. Do total, 1.472 envolviam vítimas do sexo feminino, enquanto os homens representaram 418 casos.
Em 2023, os números foram ainda mais alarmantes: 77.083 mulheres denunciaram episódios de stalking, um aumento de 34,5% em relação a 2022.
O Caso Vitória quase teve seu desfecho alterado por conta da questão. Inicialmente, a polícia acreditava que a jovem de 17 anos, encontrada morta em Cajamar, na Grande São Paulo, havia sido vítima de um crime motivado por vingança. No entanto, as apurações revelaram que o principal suspeito, Maicol dos Santos, era um stalker que perseguia a vítima há meses.Em seu telefone, foram encontradas diversas fotos e postagens relacionadas à jovem, reforçando a linha de investigação sobre assédio e obsessão.
Outro caso que deixou o assunto em evidência foi o da tenista britânica Emma Raducanu. Durante uma partida pelo WTA de Dubai, a atleta interrompeu o jogo aos prantos após reconhecer seu perseguidor na arquibancada. Abalada, Raducanu revelou que "mal conseguia respirar" ao avistar o homem.
Mas, afinal, quem são os stalkers? Como eles agem? E o que fazer caso se torne uma vítima? Especialistas explicam os principais aspectos desse crime.
O perfil mental do stalker
Segundo a psicóloga clínica Beatriz Brandão, mestre pela PUC-SP, o comportamento do stalker está associado a uma necessidade de controle e domínio sobre a vítima. Muitas vezes, ele apresenta transtornos de personalidade, como narcisismo, antissocial ou borderline, além de quadros obsessivo-compulsivos.
“O stalker possui uma distorção cognitiva que faz com que ele interprete qualquer interação – ou até mesmo a ausência dela – como um incentivo para continuar a perseguição”, explicou Beatriz.
A motivação pode variar: alguns buscam exercer poder sobre a vítima, enquanto outros vivem em uma fantasia obsessiva de proximidade. "Muitos não aceitam rejeição e têm baixa tolerância à frustração, o que os leva a insistir, mesmo quando a outra parte deixa claro que não deseja contato", complementa a especialista.
A perseguição constante pode desencadear sérios problemas emocionais para a vítima. Entre os impactos mais comuns estão ansiedade extrema, insônia, sintomas depressivos e um estado de hipervigilância tanto no ambiente físico quanto nas redes sociais.
“No ambiente digital, esse efeito é amplificado, pois a vítima perde a sensação de segurança e privacidade, muitas vezes mudando seu comportamento online ou até limitando sua interação social por medo”, destacou Beatriz.
A tecnologia, inclusive, pode potencializar o stalking, facilitando o acesso a informações pessoais e fornecendo ao perseguidor um fluxo contínuo de novidades sobre a vítima. "Cada postagem, check-in ou curtida pode ser interpretada pelo perseguidor como um convite ou uma pista para alimentar a obsessão", explicou a psicóloga.
Além disso, há um fator químico por trás dessa compulsão. O cérebro do stalker libera dopamina – neurotransmissor ligado à sensação de recompensa – ao encontrar novas informações sobre a vítima. "A dopamina pode reforçar esse comportamento, tornando a perseguição uma compulsão", afirmou a especialista.
Segundo Beatriz, os primeiros sinais incluem:
- Mensagens insistentes
- Aparições inesperadas em locais frequentados pela vítima
- Tentativas de contato por múltiplas plataformas ou envolvimento de terceiros para monitoramento indireto
- Sensação persistente de estar sendo observado ou seguido
O que diz a lei e como agir?
No Brasil, a perseguição obsessiva foi tipificada como crime em 2021, com pena de seis meses a dois anos de prisão, além de multa. A pena pode ser aumentada se a vítima for mulher, idosa ou criança, ou se houver uso de arma de fogo ou participação de mais de uma pessoa.
Em entrevista ao portal da RedeTV!, a professora de Direito Criminal da Uniaraldo, Renata Fubirno, explicou o que está previsto na legislação e como as vítimas devem proceder.
"As penas podem ser agravadas quando a vítima for criança, adolescente, idoso, ou em casos que envolvem violência de gênero, uso de arma ou participação de mais de um perseguidor. É fundamental que a vítima comunique o ocorrido à autoridade policial", afirmou.
No entanto, para que a denúncia seja levada adiante, é essencial reunir provas. “É necessário apresentar prints de mensagens, registros de ligações, e-mails, capturas de tela de perfis falsos ou qualquer outro indício que comprove a perseguição", orientou a especialista.
Muitas vezes, os perseguidores utilizam perfis falsos, o que exige um trabalho mais detalhado da investigação policial. "Identificar a real identidade do stalker é uma etapa fundamental para criar elementos de autoria e comprovar a prática do crime", explicou Renata.
Como se proteger?
Embora não exista um protocolo de segurança específico contra stalking, a especialista recomenda medidas preventivas para reduzir a exposição online e dificultar a ação do perseguidor:
- Evite compartilhar dados pessoais publicamente – locais frequentados, horários de rotina e viagens devem ser mantidos em sigilo.
- Restrinja as configurações de privacidade – publique informações apenas para amigos próximos.
- Denuncie perfis suspeitos e mensagens insistentes nas plataformas digitais.
-Comunique às autoridades assim que notar qualquer comportamento suspeito.
"A exposição excessiva facilita a vida do stalker. Pequenos cuidados podem evitar situações que, se não forem controladas, podem escalar para ameaças mais graves", finalizou Renata.
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