SP: Dois são baleados em desocupação na Cracolândia
Juliana Diógenes e Paula Felix/Agência EstadoSegundo Haddad, a presença do tráfico na região prejudica o trabalho do Programa. "Nós não conseguimos trabalhar com assistência, trabalho e saúde na presença de um traficante armado." A estimativa da Prefeitura é de que 30% das barracas da "favelinha" sirvam ao tráfico. De acordo com o prefeito, os traficantes costumam estar armados com revólver e faca, que "a todo momento são retiradas" pela polícia.
"A Prefeitura não tem meios para combater o tráfico de drogas, por isso a presença da polícia no local. O congelamento da área depende de uma ação da Polícia Militar e da Polícia Civil, que vão impedir que o traficante se instale na região." Questionado sobre a solução para o combate ao tráfico na região, Haddad disse: "Traficante é preso. A todo momento há prisões na cracolândia. O que nós não podemos permitir é a instalação de barracas que sirvam ao tráfico".
Haddad afirmou que a operação de retirada das barracas será pacífica como a que aconteceu no ano passado e negou que a polícia acompanhe a operação para reprimir os usuários de drogas. "Dependemos da presença efetiva da polícia no local, não para reprimir, mas para que nós possamos fazer o nosso trabalho de inclusão e recuperação das pessoas, mantendo o tráfico afastado da região. Queremos repetir o êxito do ano passado. Não nos interessa o confronto. O Braços Abertos funcionou exemplarmente de janeiro a agosto (do ano passado), inclusive na rua, porque havia o tratamento por parte da Prefeitura e o congelamento da área por parte da Polícia. É isso que nós queremos recuperar."
Não há prazo para o término da ação. "Às vezes você investe uma hora a mais ou meio dia a mais e consegue terminar bem a operação. Melhor do que uma repressão que pode provocar os efeitos inversos dos pretendidos", afirmou Haddad.
Confronto
Por volta das 14h, houve conflito entre os moradores da Cracolândia e agentes da Guarda Civil Metropolitana. A confusão começou após o barulho de um forte estrondo, que assustou usuários de drogas e provocou correria.
Os guardas civis avançaram contra as pessoas, mas sofreram resistência. Houve tumulto e corre-corre. Durante a confusão, policiais militares chegaram em viaturas e motos para reforçar o policiamento. Houve, então, novos barulhos de estouro e o local em que os usuários estavam acabou tomado por uma fumaça com mais de um metro de altura. Ainda não há informações de detidos.
Durante a manhã, havia sido realizada uma ação de limpeza com agentes da Subprefeitura da Sé. Os guardas civis se posicionaram no entorno da praça na frente da Estação Júlio Prestes, local onde ocorre o "fluxo" - como é conhecida a concentração de usuários de drogas.
Com a retirada das barracas, os frequentadores da cracolândia passaram a se concentrar na Alameda Dino Bueno, levando carrinhos de supermercado, cobertores e carroças. Os secretários municipais de Assistência Social e de Diretos Humanos, Luciana Temer e Eduardo Suplicy, foram para o local. "Ficou acordado que eles iriam sair voluntariamente e as tendas foram desmontadas sem nenhum conflito", disse Suplicy.
O secretário estadual Segurança Pública, Alexandre de Moraes, também foi até a Cracolândia e criticou a ação. Segundo ele, a medida foi antecipada e a SSP não foi informada sobre o trabalho.
"O que tinha sido acertado, em um primeiro momento, é que a Prefeitura faria o cadastramento e a inclusão, e nós montaríamos, em conjunto, uma operação para recolher as barracas e as lonas depois. Hoje, a Prefeitura começou a fazer a inclusão e antecipou essa segunda parte e nós não fomos avisados."
Mesmo assim, Moraes diz que o trabalho não foi prejudicado pela operação. "Até agora não houve necessidade da polícia. Estamos aqui para garantir a ordem. Houve uma conversa do prefeito com uma das lideranças, que se comprometeu a entregar as barracas." O secretário diz que há investigações em andamento para coibir o tráfico na região.
Remoção em 2014
Em junho do ano passado, os barracos foram desmontados após intervenção da Guarda Civil Metropolitana (GCM). A Prefeitura afirmou que a GCM orientou os donos das barracas a retirarem o material, o que teria sido feito "sem incidentes" pelos usuários.
Na ocasião, dependentes químicos que não participavam do programa começaram a montagem das novas barracas na "favelinha", inicialmente erguidas para que se protegessem do frio e da chuva. Com o passar dos dias, no entanto, as barracas passaram a ser usadas também para o consumo de crack e chegaram a ser alugadas por R$ 10 a hora para usuários que não tinham a estrutura e queriam fumar a pedra ou fazer sexo.