30/03/2015 10:16:00 - Atualizado em 30/03/2015 11:24:00

Traficante que comandou 5 favelas do RJ hoje ajuda a dar emprego a ex-presidiários

Por Luís Adorno/RedeTV!

Nascido e criado em Vigário Geral, comunidade da zona norte do Rio de Janeiro, Chinaider Pinheiro, de 40 anos, deu uma volta e tanto em sua vida. De micro-empresário, foi traficante. Comandou até cinco favelas da cidade e pertenceu ao CV (Comando Vermelho). Ficou mais de 8 anos preso e, agora, dá oportunidade de emprego à ex-presidiários em São Paulo, através de um projeto do grupo cultural AfroReggae.

Filho de um rodoviário aposentado e de uma manicure, Pinheiro tinha um bar na comunidade que nasceu e o sonho de pertencer às Forças Armadas do Brasil. Ele também tinha um irmão e uma irmã. Quatro anos mais novo do que ele, seu irmão caçula se envolveu com o crime organizado quando começou a consumir drogas, aos 14 anos, em 1996. Aos 16, o garoto já trabalhava para o tráfico. “Quando ele estava prestes a completar 18 anos, descobri que havia um plano para matá-lo”. Por ser “conceituado” na comunidade, Pinheiro decidiu “andar lado a lado” para tentar impedir que o plano desse certo.

Às 22h do dia 25 de março de 1996, teve início um tiroteio na comunidade que foi até as 6h do dia seguinte. Seu irmão foi uma das três vítimas fatais daquela madrugada. Os outros dois tinham 15 anos – cada um dos três foi encontrado morto com um fuzil na mão. “Naquele momento, eu não tinha mais motivos para continuar no crime, mas acabei me iludindo com o tatus. Dinheiro, joias e mulheres.”


Reportagem do Terra sobre a prisão de Latino

Chinaider Pinheiro voltou para a criminalidade no Complexo do Alemão, onde ficou estabelecido até ser preso, no dia 4 de agosto de 1997. Se passaram oito anos e oito meses “na maior faculdade do crime”, como ele conceitua, quando foi para o regime aberto em 6 de abril de 2006. Ele não retornou. O então traficante “Latino” recebeu a missão de comandar a venda de drogas em Vigário Geral. 

Eram R$ 50 mil por mês na mão. “Gastos no próprio crime”. Atualmente, ele ganha um salário parecido com o de qualquer trabalhador brasileiro. Não demorou muito, os chefes do CV começaram a repassar mais demandas a Latino. “Quando percebi, já chefiava cinco favelas”. O traficante, um dos maiores do país à época, foi recuperado no dia 9 de abril de 2007. 


Reportagem do Extra sobre a prisão de Latino

José Júnior, coordenador do AfroReggae, o visitou na prisão para convencê-lo a sair da criminalidade. Mesmo desacreditando, aceitou a proposta de trabalhar no projeto assim que foi libertado da prisão, no dia 24 de dezembro de 2008. Hoje é coordenador de um projeto que faz a ponte entre ex-presidiários e o mercado de trabalho, para que haja uma opção para aqueles que desejam sair da criminalidade ao deixar o sistema penitenciário.

“Segunda Chance”

Assim como Latino voltou a ser Chinaider Pinheiro, outros egressos merecem uma outra oportunidade. O projeto “Empregabilidade”, do grupo cultural AfroReggae, conseguiu dar emprego, de carteira de trabalho assinada, a mais de 1,5 mil ex-presidiários no Estado do Rio de Janeiro. 

Para tentar reinserir na sociedade egressos de penitenciárias de São Paulo, a entidade decidiu implantar o mesmo projeto no Estado, mas com outro nome. Com sede no edifício Banespa, no centro da capital, a agência de emprego “Segunda Chance” foi inaugurada em 1º de abril de 2013. “É a única no país feita de ex-presidiários para ex-presidiários. Todos aqui já passaram pela prisão”, diz o coordenador do projeto, Chinaider.

“Cada pessoa que nós tiramos da criminalidade e damos oportunidade no mercado de trabalho, é uma a menos que ingressa novamente àquela porta que está 24 horas aberta, que é a porta do crime”, diz Pinheiro. As oportunidades surgiram no Estado desde cartórios regionais à padarias e redes de fast food. 

A agência recebe os pedidos de trabalho dos ex-presidiários e os encaminha para as empresas. Dependendo da vaga, eles realizam cursos no Senai, de forma gratuita. Depois de serem contratados, há uma supervisão mensal de membros do projeto. “Se um funcionário falta ou está chegando atrasado, a empresa nos informa e nós conversamos com ele sobre a importância de honrar essa oportunidade. A gente expõe quantos ex-presidiários estão atrás de uma vaga”, diz o coordenador.

Segundo ele, não há nenhum relato de que os empregados pelo projeto voltaram para a criminalidade até hoje. Em São Paulo, o projeto é financiado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

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