Escutas telefônicas mostram ameaças de milicianos contra moradores do Rio
Redação/RedeTV! com Agência Brasil(Foto:Divulgação/MP-RJ)
Escutas telefônicas realizadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) mostram ameaças de milicianos contra moradores de Rio das Pedras, no Rio de Janeiro. Gravações fazem parte da investigação "Os Intocáveis", que apreendeu cinco suspeitos de liderar a milícia na última terça-feira (22).
No grupo, estavam o major Ronald Paulo Alves Pereira, o major Ronald, o tenente reformado Maurício Silva da Costa, o Maurição, além dos civis Laerte Silva de Lima, apontado como o braço armado da organização, Manoel de Brito Batista, o Cabelo, e Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio. O grupo agia nas comunidades de Rio das Pedras, Muzema e adjacências.
De acordo com a escuta do dia 15 de novembro, mostra um dos detidos na operação, Manoel de Brito Batista, discutindo sobre os cortes de cabos de energia em um de seus imóveis. "Se ele cortar os cabos meu lá, vai ser diferente porque eu vou cortar as duas pernas dele e os dois braços", diz Manoel.
Segundo o MP, a facção atuava na compra de terras, venda e aluguel irregular de propriedades. Os milicianos também atuavam na cobrança irregular de taxas da população; extorsão e recepção de mercadoria roubada.
Marielle Franco
A promotora de Justiça Simone Síbilio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), afirmou que, apesar de dois dos detidos terem sido ouvidos como testemunhas em outro crime, não é possível no momento vincular os integrantes de milícias presos hoje ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Pedro Gomes, em março do ano passado.
“A operação de hoje objetivou o desmantelamento de uma organização criminosa que atua nas comunidades de Rio das Pedras, Muzema e adjacências, inclusive a Tijuquinha. Nós não podemos afirmar neste momento que elas têm relação com o caso Marielle, mas também não descartamos a hipótese”.
De acordo com a promotora, qualquer associação entre os suspeitos e a morte da vereadora e do motorista só poderá ocorrer com o avanço das investigações. “A investigação do caso Marielle não é o objeto desta investigação. Ela é separada e autônoma e não visou prender pessoas relacionadas aos crimes da Marielle e do Anderson. Se depois, no futuro, chegarmos a conclusão de que elas têm envolvimento, aí sim será apurado, mas nos autos da investigação do caso.”
Escritório do crime
Entre os cinco presos da operação de hoje, dois são acusados de envolvimento no Escritório do Crime, um grupo de extermínio, composto por mercenários, que atuaria no estado: o major Ronald e o capitão Adriano, acusados inclusive de comandar o escritório, braço armado da organização.
Os dois, inclusive, já foram ouvidos na condição de testemunhas no caso Marielle. Novamente instigada a falar sobre o possível envolvimento, a promotora voltou a negar ligação entre as duas investigações.
“São investigações que não se confundem e não podemos, nesse momento, nem afirmar e nem descartar a participação de alguns desses integrantes no caso. É possível sim que eles façam parte do escritório do crime e as investigações serão aprofundadas nesse sentido", destacou. “A investigação do caso Marielle corre em sigilo e neste momento nós não podemos dar mais informações sobre isso.”