Cientistas descobrem fóssil de tartaruga primitiva sem casco
Fábio de Castro/Agência EstadoSegundo os autores do estudo, a descoberta trará novas pistas sobre a evolução da carapaça protetora das tartarugas, que é pouco conhecida. A explicação para isso, de acordo com os cientistas, é que existem poucos fósseis das espécies intermediárias entre as tartarugas modernas com casco e outros répteis mais primitivos.
O animal, que ganhou o nome de Pappochelys rosinae (derivado das palavras gregas "avô" e "tartaruga") media cerca de 20 centímetros e, embora fosse desprovido de casco, tinha amplas costelas que os cientistas acreditam ter dado origem à carapaça das tartarugas modernas. O estudo conclui também que, pelo formato de seu crânio, o animal está mais próximo do grupo dos lepidossauros - que inclui lagartos e cobras - que do grupo dos arcossauros, que abarca os dinossauros e aves.
De acordo com um dos líderes do estudo, Hans-Dieter Sues, curador do Museu Nacional Smithsonian de História Natural de Washington (Estados Unidos), a tartaruga possuía patas delgadas, uma longa cauda, pescoço e "uma região torácica estranhamente quadrada". Além das largas costelas nas costas, o animal também tinha uma dura parede de ossos cobrindo a barriga.
"Ela realmente tinha o início de um casco abdominal se desenvolvendo. Estruturas semelhantes a costelas começavam a se fundir em placas mais largas", disse Sues.
O fóssil, de acordo com o estudo, tinha duas aberturas no crânio atrás das órbitas dos olhos. O fato é considerado importante pelos cientistas, porque sugere que as tartarugas estão estreitamente ligadas à linhagem dos répteis que deu origem aos lagartos e serpentes. Até agora, os pesquisadores pensavam que as tartarugas haviam evoluído a partir do grupo de répteis já extinto, que inclui dinossauros.
O fóssil da primeira tartaruga conhecida com um casco completamente desenvolvido tinha cerca de 214 milhões de anos, segundo Sues. Mas havia uma imensa lacuna nos registros de fósseis de um período anterior a esse. De acordo com o cientista, pesquisadores registraram em 2008, na China, a descoberta de fósseis de um animal semelhante a uma tartaruga - sem carapaça e com costelas expandidas -, com cerca de 220 milhões de anos. Um animal semelhante, com 260 milhões de anos, havia sido descrito na África do Sul.
Segundo Sues, a Pappochelys é um intermediário entre as duas espécies, do ponto de vista cronológico e estrutural. Para os cientistas, a nova descoberta preenche a lacuna e dá consistência à hipótese de que as carapaças surgiram a partir da expansão das costelas. "Estudos modernos de desenvolvimento indicam que a carapaça da tartaruga se formou a partir da expansão óssea de costelas e vértebras", disse Sues.
Para os autores do estudo, a descoberta sugere que as tartarugas não desenvolveram sua carapaça exclusivamente para proteção dos órgãos internos. Segundo eles, as costelas têm um papel fundamental na respiração. Assim, modificar as costelas para criar uma carapaça pode significar que as tartarugas tenham desenvolvido uma maneira inteiramente nova de respirar. "A configuração das costelas pode tê-las imobilizado e as levado a desenvolver uma maneira inteiramente nova de respirar".
De acordo com o estudo, é provável que a Pappochelys vivesse nas proximidades de lagos, mergulhando neles com frequência. "Em um cenário no qual o casco da tartaruga tenha inicialmente evoluído em um contexto aquático, a carapaça pode ter se desenvolvido como uma proteção e como um lastro para controlar a capacidade de boiar, tornando o animal mais pesado", diz o artigo. Segundo Sues, as espessas costelas do animal são coerentes com hábitos aquáticos ou semiaquáticos. "Embora as mais antigas tartarugas com cascos completos fossem provavelmente terrestres, as espécies mais primitivas possivelmente viviam em regiões de deltas e lagoas, junto à costa", disse.