31/07/2020 22:44:00 - Atualizado em 01/08/2020 01:41:00

Aluna que lutou com assassino da Escola Raul Brasil ainda vive atormentada com tragédia: "Tenho sonhos perturbadores"

Douglas Pires/RedeTV!

Rhyllary Barbosa salvou dezenas de colegas ao enfrentar um dos agressores

(Foto: Reprodução/Instagram)

“Deus, não me deixe sonhar isso de novo”. O pedido é da estudante Rhyllary Barbosa de Souza, de 16 anos, que lutou contra um dos assassinos que invadiram a Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo, em março do ano passado. Infelizmente, segundo ela, a oração ainda não tem surtido efeito.

Há um ano e três meses, durante todas as noites, a garota tem pesadelos e quase sempre acorda apavorada no meio da madrugada. O pós-tragédia se tornou um martírio psicológico para a jovem estudante que mudou de escola, mas as lembranças daquela manhã de março continuam a perturbando diariamente.

“Achei que os pesadelos iriam parar depois de um certo tempo, mas este tempo ainda não chegou. São sonhos perturbadores. Às vezes eu converso com Deus antes de dormir e peço: ‘Deus, não deixa eu sonhar isso de novo, mas eu sonho do mesmo jeito. Não são só sonhos da escola, mas são sonhos brutos. Coisas que você só vem em cenas de filmes perturbadores. É uma coisa estranha, uma coisa louca. Acordo totalmente apavorada, mas acontece, um dia passa”, descreveu a garota em entrevista ao Portal da RedeTV!.

A estudante chegou a se consultar com uma psicóloga da rede pública de saúde de Suzano. Na avaliação dela, o tratamento estava até surtindo efeitos positivos, mas a profissional teve de deixar o posto onde trabalhava: “Uma psicóloga da escola me encaminhou para um posto de saúde aqui perto da minha casa e eu comecei a fazer o tratamento, porém, nos últimos estágios a psicóloga teve de sair do posto. Ela me encaminhou para outra, porém estou enrolando muito para ir porque é muito difícil passar por isso de novo, tem que ter muita coragem”.

(Foto: Reprodução)

Rhyllary, que está prestes a completar 17 anos, tem tentado preencher sua rotina trabalhando como manicure, um ofício que aprendeu com a mãe. Ela ainda não pensou o que quer ganhar de aniversário. “Talvez um celular novo”, disse com timidez.

Segundo ela, o período de quarentena por conta da pandemia do coronavírus (covid-19) deu uma piorada nas coisas e ela disse que quase entrou em depressão. Por outro lado, Rhyllary contou que ninguém da sua família se infectou com o vírus, mas o confinamento forçado a fez parar, principalmente, com uma das suas maiores paixões: o jiu-jitsu.

“Me tornei uma pessoa medrosa ao ponto de, às vezes, faltar o ar. Arisca com tudo como se a qualquer momento alguma coisa ruim fosse acontecer comigo ou com as pessoas que eu amo. Até dentro de casa. Às vezes nem eu sei quem eu sou mais. É como se eu estivesse perdida tentando me achar. Tenho fé que vou conseguir me achar de novo e dizer: esta sou eu”.

(Foto: Reprodução/Instagram)

A garota de fala calma teve um papel fundamental em meio ao caos na manhã do dia 13 de março. Correu em direção à diretoria e deu de cara com Luiz Henrique de Castro, um dos assassinos. Entrou em luta corporal com o criminoso encorajando outras centenas de estudantes que, como em uma explosão de boiada, conseguiram escapar. Uma imagem que rodou o planeta.

Questionada se faria tudo novamente, mesmo sabendo que a atitude heroica pode ter sido o gatilho de seus pesadelos diários, Rhyllary, após pensar por alguns segundos, respondeu. “Eu pensei nisso e... durante muito tempo eu falei: 'Rhyllary, se você sentisse agora aquele medo que você sentiu naquele dia você realmente faria isso de novo'? E a resposta é sim. Não tem como me livrar disso, não tem como eu fechar os olhos para isso porque muitas vidas foram salvas por um simples ato, pela porta aberta. Então eu faria tudo de novo”, finalizou.

(Foto: Douglas Pires/RedeTV!)

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