Análise: Jorge Sampaoli e o resgate do DNA santista
Tainá Fernandes/RedeTV! - Estagiária sob supervisão de André LucenaCom 63% de aproveitamento no Peixe, o argentino tem 15 vitórias, seis empates e seis derrotas em 27 jogos
Jorge Sampaoli (Foto: Divulgação/Santos)
Muito se falou sobre a chegada de Jorge Sampaoli no Santos Futebol Clube. Diversos jornalistas brasileiros despejaram críticas e expuseram seus receios sob a contratação do técnico argentino de 59 anos. Porém, me permitam afirmar: desde o início Sampaoli trouxe esperança ao DNA santista, que exige o futebol arte e os 90 minutos no ataque em busca de gol.
Pode ser que eu queime a minha língua ou após este instante tudo comece a desabar, mas duvido muito e vou explicar o quanto devemos apreciar a genialidade de Jorge Sampaoli.
“Sampaolé” e a volta por cima
Com contrato de dois anos, Sampaoli tomou à frente do Peixe em um momento pra lá de conturbado, com algumas indefinições sobre o elenco e poucas contratações. A partir disso, pude observar uma postura louvável do argentino: adaptar o time que tem nas mãos e colocar em campo de acordo com as características de seus jogadores.
Basta analisar que grande parte do elenco atual também estava no Santos de 2018. São eles: Vanderlei, Victor Ferraz, Matheus Ribeiro, Orinho, Luiz Felipe, Gustavo Henrique, Lucas Veríssimo, Alison, Pituca, Yuri, Jean Mota, Sánchez, Derlis González, Felippe Cardoso, Rodrygo, Yuri Alberto, Copete e Eduardo Sasha.
E aí, pergunto para vocês... Quando vimos o Peixe pressionando o adversário até o fim da partida? Quando vimos a zaga mantendo a tranquilidade e pensando na saída de jogo com a bola no pé sem dar chutões?
Eu não vi isso anteriormente. É claro que para estas evoluções acontecerem, foi necessário um tempo de adaptação e isso custou a inédita eliminação do Santos na primeira fase da Copa Sul-Americana. Todavia, desde então o Peixe atua com o ânimo renovado sob o comando de Jorge Sampaoli e não há um atleta que represente melhor essa mudança do que Jean Mota.
O meia chegou ao clube em junho de 2016 e fez apenas cinco gols até o fim de 2018. Agora, com o comando de Sampaoli, Mota balançou a rede sete vezes somente no Paulistão 2019 e terminou o campeonato com três prêmios individuais: artilheiro, melhor meio-campista e craque do torneio.
Jean Mota (Foto: Reprodução/Instagram)
O Santos ofensivo de Jorge Sampaoli
Sob as mãos de Sampaoli, o Santos já rendeu o dobro de ofensividade se comparado aos comandos de Cuca ou de Jair Ventura. A prova disso é que o Peixe só venceu dois jogos com mais de três gols no ano passado (5 a 2 no Vitória e 5 a 1 no Luverdense). Em 2019, já foram quatro jogos somando apenas o Paulistão (4 a 1 no Bragantino e 4 a 0 no São Bento) e a primeira fase da Copa do Brasil (4 a 0 no América-RN e 7 a 1 no Altos-PI).
O “sair para buscar jogo” explica o resultado apresentado acima, mas também possibilita as goleadas “inesperadas” (a derrota de 5 a 1 para o Ituano e o 4 a 0 para o Botafogo-SP no Paulistão). Apesar de ter sofrido alguns gols por causa de falhas individuais e não forçadas, o Peixe acaba ficando mais vulnerável aos contra-ataques.
Na linguagem de formação tática, Jorge Sampaoli monta o time de uma forma em que os atletas possam mudar de posição de acordo com as situações da partida. Tanto é que, se você reparar, o argentino fica o tempo inteiro em pé na beira do campo e não deixa de conversar com os jogadores nem por um minuto.
Geralmente, Sampaoli alterna entre os sistemas 4-3-3 e o 3-4-3. Exigindo sempre uma pressão incessante em cima do adversário, uma preservação da posse de bola (o famoso “amor pelo balón”) e objetividade ao gol.
Vale lembrar o segundo jogo da semifinal do Paulistão, no qual o Santos obteve 75% da posse de bola contra apenas 25% do Corinthians e 11 chutes ao gol contra nenhum do Timão. Porém, na minha opinião, a falta de um centroavante durante a partida e a falta de efetividade nos pênaltis levaram a eliminação do Peixe.
Fora de campo
Indo além do trabalho, Jorge Sampaoli também conquistou o torcedor santista fora dos jogos e se tornou uma personalidade. Até a bicicleta do argentino ficou conhecida e repercutiu nas redes sociais.
Todo esse “encantamento” tem como base a inteligência futebolística, mas também o caráter de Sampaoli. Em março, devolveu o salário após saber que jogadores ainda não tinham recebido os vencimentos de fevereiro.
Outro exemplo que levou os alvinegros à loucura foi o tratamento dado aos meninos que assistem o trabalho do Peixe em cima de árvores. Recentemente, Sampaoli presenteou com chuteiras, ovos de páscoa e convidou a garotada para “bater uma bolinha” no CT Rei Pelé.
Essa simplicidade não fascina? Claro que sim. Torço e acredito que Jorge Sampaoli pode surpreender a nação santista ainda mais. Vamos aguardar...
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