Moro diz que Lava Jato tem começo, meio e fim: "Esse acervo um dia vai acabar"
Moro fez balanço dos primeiros meses à frente de ministério no governo Bolsonaro
(Foto: Reprodução/RedeTV)
Entrevistado por Boris Casoy, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, fez um balanço dos anos à frente dos processos em primeira instância da Lava Jato e, ao vislumbrar o futuro da operação, avaliou que ela um dia será finalizada, mas isso não é sinônimo do fim do combate à corrupção.
"A Lava Jato, como qualquer caso criminal, tem um começo, meio e fim. Então, ela vai chegar num momento que ela vai encerrar aqueles casos, principalmente centrados em casos de corrupção no âmbito da Petrobras. Esse acervo um dia vai acabar, o que não significa que não vão surgir novos casos", explicou Moro na entrevista gravada em Brasília (DF) e exibida na noite desta sexta-feira (11).
Ao comentar o momento mais notório da Lava Jato, com a condenação e prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Moro classificou que não fez nada além de cumprir com o dever e aplicar a lei.
"O processo do ex-presidente [Lula] pertence ao passado. Nunca tive nenhuma animosidade pessoal com relação a ele. Simplesmente cumpri o meu dever", declarou o ministro do governo Bolsonaro. "Foram apresentadas as acusações, as provas e apliquei a lei. E veja que, às vezes, há um erro em focar na minha pessoa porque a sentença que eu proferi foi confirmada", completou.
Moro ainda classificou que a operação "foi o grande desafio para todos os envolvidos" e que a Petrobras foi muito prejudicada por aqueles que a sugaram. "A Petrobras, nós precisamos reconhecer, foi saqueada. Não vou dizer que foi até o osso porque petróleo dá muito dinheiro. Mas se fosse qualquer outro tipo de empresa, provavelmente já teria falido", avaliou.
Relação com Bolsonaro
Convidado no final das eleições de 2018 para integrar a equipe ministerial do governo de Jair Bolsonaro, Moro disse ter uma ótima relação com o presidente e contou que os dois mantém conversas frequentes sobre os avanços do ministério.
"A relação com o presidente é ótima, muito boa. Nós conversamos frequentemente, nos encontramos periodicamente e sempre me reporto a ele sobre resultados da pasta. O relacionamento é muito bom. Existe aqui, em Brasília, fofocas e intrigas que não correspondem à realidade", garantiu Moro.
Questionado por Boris sobre qual seria sua reação caso recebesse um pedido do próprio Bolsonaro para sucedê-lo na Presidência na República, o ministro afirmou que levaria em conta a questão da lealdade que tem em relação ao mandatário brasileiro.
"Vim ao governo a convite do presidente Jair Bolsonaro e ele mesmo mencionou que vai ser candidato à reeleição, então eu jamais poderia concorrer contra uma pessoa que me convidou - até por uma questão de lealdade", explicou. "Acho que não vale a pena a gente ficar antecipando o futuro, o importante é fazer um bom trabalho como ministro - é isso que estou fazendo", completou.
Pacote anticrime e violência
Ao falar sobre o trabalho do Ministério da Justiça e Segurança Pública para reduzir a violência e passar mais confiança aos brasileiros para sair às ruas, o ministro citou a redução nos índices de criminalidade.
Para Moro, a população tem direito em reclamar da violência, mas que é necessário ver o campo positivo da situação. "Apesar da queda, os números ainda são muito altos, mas vamos ver o lado positivo: até julho, 7,9 mil pessoas deixaram de perder a vida pelo menos se nós considerarmos os números do ano passado", explicou. "Temos que trabalhar mais, mas veja que os resultados estatísticos são muito positivos", concluiu.
Ainda no quesito segurança, Moro disse que tem conversado intensamente para tentar buscar o essencial para a aprovação do seu pacote anticrime: convencer os parlamentares da importância do projeto.
"Acredito no projeto, ele é importante", declarou Moro, que disse não ver efetiva motivação política para a suposta resistência à proposta. "Dentro de uma democracia é normal considerações de natureza política. Isso é normal, mas o principal é que precisamos obter uma maioria para a aprovação dos principais pontos", avaliou.
Conforme explicou o ministro, o projeto anticrime tem entre seus pontos acabar com as saídas temporárias, as "saidinhas", de presos como Suzane von Richthofen, condenada pela morte dos pais, mas frequentemente liberada para o Dia das Mães e Dia dos Pais.
"Essa questão que é algo que transcende o caso concreto e afeta a credibilidade do sistema de Justiça. As pessoas não compreendem [e dizem] 'olha, matou pai e mãe e vai sair no Dia dos Pais ou Dia das Mães'. Isso não faz sentido. Uma das propostas do projeto anticrime é proibir saídas temporárias de pessoas condenadas por crimes hediondos ou violentos. Até porque se oferece um risco", defendeu.
Ao se posicionar sobre prisão perpétua, Moro afirmou citou um caso internacional como exemplo, mas disse não saber "se é necessário tudo isso", mas que o sistema atual gera insatisfação.
"Olha, eu vejo que vários países europeus têm penas de prisão perpétua. Não sei se é necessário tudo isso, mas é absurdamente insatisfatório quando se vê, no Brasil, pessoas condenadas, por exemplo, por homicídio qualificado, às vezes com requintes de crueldade, ficando menos de dez anos na prisão. É uma pena que parece desproporcional a gravidade desses crimes", defendeu.
Já sobre a pena de morte, o ministro fez uma reflexão sobre as implicações de aderir esse tipo de condenação. "O problema da pena de morte sempre envolve a questão do erro judiciário. Quando se erra é impossível voltar atrás, então isso é realmente um problema apontado inclusive nos países que adotam [a pena de morte]", avaliou.
Por fim, o ministro disse ver com otimismo a redução dos índices de criminalidade. "Vamos ver o lado positivo: até julho, 7,9 mil pessoas deixaram de perder a vida pelo menos se nós considerarmos os números do ano passado", explicou. "Temos que trabalhar mais, mas veja que os resultados estatísticos são muito positivos", concluiu.
Assista à entrevista completa: