Anistiar o 8 de janeiro seria uma "avacalhação da República", afirma Ricardo Kotscho
Jornalista analisou a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência e o ataque de 8 de janeiro em Brasília
(Foto: Divulgação/ Rede TV!)
Nesta quinta-feira (24), o programa “É Notícia” recebeu o jornalista Ricardo Kotscho, que teve passagens notáveis pela TV Globo e pela Folha de S. Paulo. Nascido na Alemanha, Kotscho aprendeu português com a ajuda do jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), que sua família assinava. Ironicamente, mais tarde, ele se tornaria repórter do veículo, marcando o início de sua carreira jornalística.
No início da entrevista, Ricardo relembrou seus primeiros passos no jornalismo, desde seu primeiro emprego, quando era apenas ajudante de jornaleiro, até chegar a integrar a Assessoria de Imprensa da primeira campanha de Lula para a Presidência, em 1989.
Na cobertura política, Kotscho foi responsável pela coordenação de grandes reportagens premiadas, como “Assim Vivem os Nossos Super Funcionários”, publicada pelo Estadão após a remoção da censura na pós-ditadura. A matéria utilizou informações do Diário Oficial para revelar super salários e benefícios exorbitantes concedidos a funcionários públicos.
Ao falar sobre política, Ricardo analisou a ascensão de Jair Bolsonaro (PL) na política brasileira e argumentou que a imprensa falhou ao não mostrar “quem era” o ex-presidente. “[O erro], em primeiro lugar, foi não mostrar, durante a campanha, quem era Jair Bolsonaro. Acho que esse foi o grande erro. Tanto é que começamos a achar engraçado”, afirmou o jornalista.
Kotscho também relembrou que foi criticado por escrever sobre Bolsonaro em uma coluna. “Quando eu criticava [em uma coluna], amigos meus, jornalistas, diziam: ‘Você está promovendo esse cara, ele não vai nem para o segundo turno, não tem a menor chance.’ E eu respondia: ‘Não, nós temos que mostrar quem ele é, para ele não chegar ao segundo turno.’ (…) Votaram em uma pessoa que a maioria dos eleitores não conhecia; a mesma coisa aconteceu com Marçal!”, prosseguiu.
Ricardo destacou que a adesão da classe mais pobre à direita, apesar das políticas públicas implementadas por governos de esquerda, é um fenômeno influenciado significativamente pela comunicação. “Tem uma parte que é comunicação. A direita sabe usar melhor as redes sociais, as milícias digitais, do que a esquerda”, analisou.
“O problema é outro: é o discurso, é o conteúdo, e não só a forma. A verdade é que muitas ideias da esquerda, muitos discursos envelheceram ao longo do tempo. A esquerda não se atualizou, não se modernizou”, argumentou o jornalista.
Sobre uma possível candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 como candidato popular e progressista, Ricardo, que foi assessor de imprensa de três campanhas do atual presidente, afirma que não deseja que Lula busque uma nova eleição.
“O Lula foi candidato em 2022. Acho que ele foi por sacrifício, porque era o único líder popular desse país capaz de derrotar o Bolsonaro e impedir a volta da ditadura militar”, disse ele.
Sem vislumbrar novas lideranças progressistas, Ricardo não apoia uma reeleição de Lula por conta de sua idade. “Como amigo dele, acho que ele não deveria ser candidato à reeleição, porque já foi um grande sacrifício o que ele fez. Ele já teve câncer, já foi preso. Acho que está na hora de aproveitar a vida”, comentou o jornalista.
Por fim, Ricardo relembrou o ataque de 8 de janeiro em Brasília. Ao analisar o caso, o jornalista afirmou que a sociedade está “em uma encruzilhada”. Ele destacou que, “se o Supremo Tribunal Federal cumprir seu papel, julgar esses envolvidos e punir como deve ser, não apenas Bolsonaro, mas toda aquela gangue, o 8 de janeiro será um marco na defesa da democracia. No entanto, se houver anistia, será uma verdadeira avacalhação da República.”
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