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EUA diz que não dificultaram envio de insumos para o Brasil

País não comprou material produzido na China e destinado ao Brasil

(Foto: Divulgação/U.S. Department of State)

O novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, negou nesta terça-feira (7), em entrevista coletiva online, que seu país tenha adquirido, comprado, retido ou bloqueado qualquer equipamento hospitalar ou medicação destinada ao Brasil para combate ao novo coronavírus (covid-19).

Segundo Chapman, tais informações são “notícias ruins” divulgadas por pessoas que querem avançar com suas “agendas pessoais ou de governo”; ou mesmo de “muitos comerciantes que querem vender para lá e para cá” na busca por lucros cada vez maiores.

“Nossos oficiais de Justiça já estão trabalhando contra isso, porque nossa lei não permite esse tipo de prática, visando [estabelecer] preços supervalorizados”, disse o embaixador.

“O governo dos EUA não comprou nenhum material médico fabricado na China e destinado ao Brasil”, disse. “E, durante essa emergência de saúde, é muito importante cuidar das informações e saber de onde elas vêm”, acrescentou.

Com relação a denúncias públicas feitas por governadores de que seu país teria bloqueado remédios e equipamentos que teriam como destino as regiões Norte e Nordeste, Champman pediu que essas informações sejam repassadas a seu governo para que sejam investigadas.

“Os governadores podem nos passar informações para que investiguemos. Já o fizemos e vimos que não está acontecendo. Havendo qualquer preocupação, podem nos contatar. Repito: não estamos bloqueando essas coisas. Isso, no entanto, não significa que não haja pessoas dizendo que isso está acontecendo”.

China

Perguntado sobre se, do ponto de vista do governo norte-americano, a China estaria tentando ganhar influência geopolítica ao oferecer materiais a outros países, para o combate ao novo vírus, Chapman evitou polemizar e disse que o momento é de todos trabalharem em conjunto.

“Quando se está em um bairro em chamas e as casas estão em chamas, não é o momento de debater e usar argumentos para ganhar ponto. Não é momento de discutir sobre onde o fogo começou. Isso nós já sabemos. É fato. O importante é controlar e extinguir o fogo. Por isso vamos trabalhar todos para extinguir essa doença”.

Parceria histórica na saúde

Na conversa com os jornalistas, o embaixador destacou a “longa e produtiva história” que Brasil e EUA têm na área da saúde, o que viabilizou a instalação de escritório de controle de doenças há pelo menos uma década, bem como trabalhos conjuntos relacionados a outros vírus, como o Zika e o HIV.

“Pontualmente, estamos compartilhando muita informação, sobre o que estamos vendo e estudando [sobre a doença] nos EUA. Além disso, nosso setor privado está entrando em ação em vários setores, já presentes aqui. Fiz videoconferências com essas empresas. Algumas estão reparando respiradores, abrindo informações, aumentando a produção de máscaras. O setor privado norte-americano que já está há muito [atuando] no Brasil”, disse o embaixador.

Ele lembrou também da linha de swap [medida que envolve câmbio de moedas com o objetivo de dar estabilidade a elas] anunciada recente mente pelo Federal Reserve, de US$ 60 bilhões para ajudar o Brasil a tranquilizar seu mercado.

Prioridades na relação com o Brasil

Recém-chegado para desempenhar a função de embaixador dos EUA no Brasil, Chapman disse que terá três prioridades. “A primeira envolve economia, comércio e investimentos. Isso vai ser ainda mais importante após sairmos dessa crise. Em segundo lugar está a área de segurança. Não só militar, mas também policial, fazendo tudo para a segurança de nossos povos, de forma a nos proteger de inimigos como terroristas e traficantes”, disse.

“Em terceiro lugar estão os temas globais aos quais Brasil e EUA têm sintonia, como democracia, liberdade de expressão, liberdade religiosa”, acrescentou, ao se classificar como um tipo de embaixador que vai além de recepções “para arregaçar as mangas e trabalhar com o povo e com os ministros brasileiros, para o bem do Brasil e dos EUA, porque quando nossos amigos estão seguros, os EUA também estão”.

Internet 5G

Sobre a implementação da quinta geração da internet (5G), tema que abrange disputas dos EUA com a China e com alguns países europeus, Chapman disse tratar-se de um “assunto complicado” e que “ cada nação tem de trabalhar para seus interesses e benefícios”.

“Acho que toda nação tem de avaliar exatamente como vai fazer sua politica exterior, nas questões comerciais e de segurança”, afirmou. “É evidente que não estejamos sempre de acordo com tudo, seja com a China ou com outro país. Agora, isso é um fato: muitos países autoritários, comunistas e de ditaduras não praticam os mesmos princípios. Isso não significa que não possamos ter relações construtivas.”

“É assim que o presidente Donald Trump está manejando com a China e com outros países, visando uma relação prática e recíproca. Vamos conversar sobre 5G e muitos temas, com relação a privacidade, setor privado, controle de governo”, acrescentou.

Chapman alertou ser importante que regras e normas sejam seguidas, de forma a trabalhar as questões seguindo os acordos já feitos.

“É como chegar no campo de futebol sem jogar com as regras do futebol brasileiro, mas com as do futebol americano, que é bem diferente. Nós, jogando com as regras do futebol americano, ganharemos sempre da Seleção Brasileira, mas isso não é justo, porque estamos jogando com regras diferentes”, argumentou ao defender a reciprocidade entre os países.

Relação bilateral

Para o embaixador Chapman, o atual momento representa uma “oportunidade na relação bilateral” entre os Brasil e Estados Unidos. “É momento para uma visão mais ampla e agressiva de como os dois países devem atuar para fazer com que a aliança cresça. Nossas economias podem fazer muito mais juntas.”

Ele lembrou que muitas empresas norte-americanas continuam investindo no Brasil. “Há empresas que estão aqui há mais de 100 anos”, lembrou ao ressaltar que, por já ter trabalhado com empresas e com o sistema financeiro, tem “facilidade” para atrair para o país o interesse de investidores de bolsas como a de Wall Street. “Tenho falado muito com eles, e criado muitas possibilidades de as empresas virem para o Brasil”.

Chapman afirmou que, recentemente, em Washington, algumas medidas já firmadas facilitarão financiamentos na infraestrutura brasileira. “Nosso banco de financiamento pode se juntar ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para fazer isso. Estamos ainda em uma fase inicial, mas vamos trabalhar para agilizar o investimento privado.”

Voos entre Brasil e EUA

Chapman disse que, entre os motivos de os Estados Unidos manterem os 16 voos semanais com o Brasil, está a preocupação de seu país com os 260 mil norte-americanos que vivem permanentemente no Brasil, mas que o bloqueio de voos é algo que “sempre será analisado” por seu governo. “Vamos conversar, tanto para proteger nosso país como para o Brasil proteger o seu”, disse.

Embaixador

O embaixador Todd Chapman chegou ao Brasil no dia 29 de março. Antes, serviu no Equador, de 2016 a 2019.

De acordo com a embaixada dos EUA no Brasil, ele foi vice-secretário adjunto principal para Assuntos Políticos e Militares no Departamento de Estado (2014-2016); vice-chefe de Missão na Embaixada dos Estados Unidos em Brasília (2011-2014); coordenador adjunto sênior para Assuntos Econômicos da Embaixada dos Estados Unidos em Cabul, Afeganistão (2010-2011) e encarregado de negócios na Embaixada dos Estados Unidos em Maputo, Moçambique (2007-2010). Também serviu na Bolívia, Costa Rica, Nigéria e Taiwan, além de ter ocupado diversos cargos no Departamento de Estado em Washington.

Chapman é formado em História pela Universidade de Duke (1983) e concluiu em 2000 um mestrado em Inteligência Estratégica na Escola Nacional de Inteligência.

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