[Crítica] 'O Fenômeno eSports': Entre a inclusão e os desafios do cenário competitivo
O cenário evoluiu ao longo do tempo, mas ainda existe muito a ser feito
(Divulgação/Clube Filmes)
O documentário 'O Fenômeno Esports' em questão faz um trabalho notável ao retratar o universo dos eSports, um cenário que evoluiu rapidamente ao longo dos últimos anos e que, mesmo com uma ascensão meteórica, ainda enfrenta desafios sociais, preconceitos e questões estruturais.
Desde os primeiros minutos, o ritmo ágil prende o espectador. Há uma cadência constante que, embora não chegue a ser frenética, mantém a atenção com uma fluidez invejável. A equipe responsável pela produção, liderados pelo diretor Fabrício Brittar, claramente sabia qual narrativa seguir, evitando tropeços ou momentos de dispersão.
O início da gameplay
Um dos pontos centrais abordados pelo documentário é o preconceito, tema que sempre orbita o mundo dos eSports. O grande acerto está em fugir dos clichês. Em vez de cair na repetição de discursos batidos, a produção adota uma abordagem inovadora, retratando os percalços enfrentados pelos gamers e refletindo sobre a evolução do cenário competitivo, desde sua criação até sua consolidação.
Figuras importantes, tanto nacionais quanto internacionais, são convocadas para contextualizar essa trajetória. Nomes como Fallen, Ana Xisdê, Gaulês e o influenciador Luiz Gustavo Queiroga aparecem ao lado de personalidades globais, o que amplia o escopo da produção. Além de destacar suas carreiras, o documentário mergulha nas realidades cotidianas desses profissionais, mostrando como é viver dentro desse universo.
O documentário também aborda questões críticas, como a elitização do cenário e o machismo, trazendo uma reflexão ampla sobre os principais jogos do eSports, como CS:GO, LoL e Free Fire. Cada um desses títulos, em diferentes graus, enfrenta o desafio da acessibilidade. O CS:GO e o LoL já têm uma base consolidada, mas exigem investimentos consideráveis em infraestrutura para competições em alto nível. O Free Fire, por sua vez, inicialmente se destacou por ser acessível a um público mais amplo, especialmente aqueles com dispositivos menos potentes. No entanto, à medida que o jogo evoluiu, passou a demandar aparelhos mais avançados, o que afastou parte do público que o abraçou nos primeiros anos.
Apesar desse movimento, o Free Fire ainda é lembrado por ter aberto portas para uma nova geração de jogadores de classes sociais mais baixas, desempenhando um papel crucial na democratização do eSports no Brasil. Essa realidade é um reflexo de como a acessibilidade nos jogos eletrônicos é um fator determinante para inclusão social no universo competitivo. O documentário mostra como esses jogos, mesmo com suas barreiras, seguem sendo um ponto de entrada e transformação para muitos jovens, especialmente aqueles que não teriam acesso a outros esportes ou atividades devido às condições financeiras.
Pega visão!
Quando o foco se volta para o cenário feminino, o documentário brilha ao trazer relatos de personalidades que traçam sua jornada desde os primeiros desafios até a ascensão dentro da indústria. São destacadas não apenas as dificuldades enfrentadas pela comunidade, como o machismo e a exclusão, mas também as conquistas dessas mulheres, que hoje estão à frente de grandes empresas e iniciativas, como a CEO da Black Dragons, Nicolle Merhy, desafiando as barreiras impostas a elas no início de suas carreiras. O tom é de inspiração, sem deixar de lado a realidade dura que essas figuras enfrentaram.
Além disso, o documentário aborda o debate sobre o reconhecimento dos eSports como esporte com naturalidade. Ao trazer depoimentos sobre a polêmica envolvendo a antiga ministra do esporte, ele não tenta polarizar a questão, mas mostra o ponto de vista daqueles que estão no cenário. Para eles, independentemente das opiniões externas, o que importa é a legitimidade conquistada pela modalidade entre jogadores e o público.
Outro ponto de destaque é a forma como o documentário aborda a representatividade racial dentro do cenário de eSports no Brasil. O documentário lança luz sobre a disparidade entre a composição racial do país, onde a maioria da população é negra ou parda, e a baixa presença dessas pessoas no competitivo. A produção não se furta em mostrar como fatores sociais, como a falta de acesso a tecnologias e a ausência de incentivos, têm um papel fundamental na exclusão de pessoas negras do cenário. Ao mesmo tempo, o documentário destaca as histórias de resistência e sucesso de indivíduos que conseguiram superar essas barreiras, reforçando a necessidade de maior inclusão e acessibilidade no setor.
No geral, o documentário aproxima o espectador do mundo dos eSports, mostrando que, por trás dos holofotes e das grandes competições, existem histórias humanas cheias de desafios e superações. Essa proximidade entre o público e o cenário é um dos maiores trunfos da obra, que consegue cativar tanto os já familiarizados com o universo.
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