Análise: 'Barbie' acerta em humor afiado para criticar esteriótipos, mas opta por não se aprofundar no feminismo
Filme de Greta Gerwig é divertido do início ao fim e traz mensagens importantes para o mundo atual
(Foto: Divulgação/Warner Bros.Pictures)
Desde seu anúncio, "Barbie" gerou uma grande expectativa no público. Isso porque o nome não só está atrelado a uma das marcas mais poderosas do planeta, mas também faz parte do imaginário popular de toda uma geração. O fato é que falar da boneca mais famosa do mundo em um contexto onde sua existência vem sendo constantemente questionada não é uma tarefa fácil, mas a diretora Greta Gerwig o faz com certa maestria.
A crise pela qual a boneca Barbie passa na atualidade pode ser vista na própria crise existencial enfrentada pela personagem de Margot Robbie ao longo de toda sua jornada entre o mundo real e o fantasioso mundo cor-de-rosa em que habita. Em um momento da sociedade onde o padrão irrealista representado pela boneca estereotipada já não funciona mais, Barbie se vê constantemente questionando sua própria existência.
De maneira escrachada, Barbie não vê problemas em rir de tudo e todos, usando ferramentas como deboche, sarcasmo e piadas para alfinetar o capitalismo, o patriarcado, os padrões de beleza e, até mesmo, a própria Mattel. O longa ainda reserva um espaço para discutir o feminismo, embora não se aprofunde no debate, deixando a discussão para o ‘fora das telas’.
A narrativa é envolvente e criativa, fazendo as quase duas horas de filme passarem de forma relativamente rápidas. A trama, embora fantasiosa e um tanto inesperada, não foge ao lógico e sabe amarrar bem as pontas soltas.
A ‘fantástica vida da Barbie’ é de fato fantástica!
A magia e o encantamento da Barbielândia, inundada por detalhes e cores que se misturam de maneira perfeita, remontam cenários autenticamente artificiais — cumprindo com a proposta de delimitar uma divisão entre o ‘duro real’ e o ‘mágico fantasioso’ — e transbordam de nostalgia os olhos de uma geração marcada pela boneca.
Os figurinos são uma obra à parte e enriquecem ainda mais a experiência. Desde vestidos colecionáveis a collants de patinação, os looks de Barbie são impecáveis e cumprem com sua função de servir como mais que apenas um adereço, auxiliando na ambientação do universo rosa.
Outro acerto do filme é o elenco. Margot Robbie brilha no papel de Barbie e torna difícil imaginar outra pessoa no lugar. Sua atuação é cheia de níveis e consegue comover o telespectador a sentir empatia por uma boneca de plástico totalmente idealizada e seus conflitos internos.
Ryan Gosling, no entanto, não larga muito atrás. O ator que dá vida ao Ken estereotipado é responsável pelos momentos mais cômicos do longa e os executa de forma bastante inteligente e lúdica.
Apesar do menor tempo de tela, os intérpretes dos outros Kens e Barbies, como Kate McKinnon, Simu Liu, Emma Mackey e Alexandra Shipp, ou outros personagens como Will Ferrel, America Ferrera e Michael Cera também brilham em seus respectivos papéis.
Todavia, o longa precisa lidar com alguns elementos desajeitados, como o comportamento exagerado criado em cima da figura de Will Ferrel (CEO da Mattel). O recurso, no entanto, talvez tenha sido usado por Greta para criar a sensação de que o presidente da empresa seria responsável por representar tudo o que seria ruim no mundo.
Outro ponto que vale questionar é a diluição da personagem de Ariana Greenblatt (Sasha) ao longo da narrativa. No início, ela parece ser uma personagem ‘militante’ que se tornará importante para o enredo, porém essa ‘essência’ vai se esvaindo ao longo da trama, até a garota assumir o posto de uma personagem secundária.
Apesar disso, o filme funciona bem e é levado de forma fluída e divertida do início ao fim. Em uma escala de rosa, Barbie acerta no tom pastel: não forte demais para chocar, mas leve e agradável aos olhos.
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