Transferência de alunos da rede privada para a estadual cresce mais de 10 vezes em São Paulo, diz Secretaria de Educação
As escolas estaduais receberam 2.388 estudantes vindos de colégios privados entre abril e maio de 2020, contra 219 no mesmo período de 2019
(Foto: Divulgação/Secretaria de Educação de SP)
O número de transferências de alunos da rede particular de ensino para a rede pública estadual aumentou mais de dez vezes entre abril e maio de 2020, em São Paulo. Dados da Secretaria de Educação mostram que a rede estadual recebeu 2.388 estudantes vindos de escolas privadas este ano, contra 219 no mesmo período do ano passado.
Em meio à crise causada pela pandemia da Covid-19, retirar os filhos de colégios particulares e mudá-los para escolas públicas pode ser uma alternativa para equilibrar as contas. Apesar do aumento significativo do número de transferências, Thiago Cardoso, Coordenador da CITEM (Coordenadoria de Informação, Tecnologia, Evidências e Matrícula) da Secretaria de Educação, disse ao Portal da RedeTV! que a estrutura do Estado dará conta dos novos alunos. "A rede pública responde por cerca de 80% das matrículas no estado de São Paulo, então nós temos sim capacidade para atender todo mundo que queira fazer a migração da rede privada para a rede pública. Eventualmente, em uma região em que a demanda aumente muito, nós podemos abrir novas turmas", afirmou.
O SIEEESP (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo) também informou à reportagem que o número, até agora, de transferências é pequeno em relação a quantidade de alunos. "O número parece grande, mas esse valor não chega a 1% do número total de alunos da escola privada, mas existe sim um problema, nós estamos tentando sensibilizar os governos. Sai mais barato para o governo ajudar essa família a pagar a escola dos filhos durante esses meses de pandemia do que ele atender esses alunos", disse Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato.
A orientação do SIEEESP, segundo Benjamin, é de que as escolas privadas conversem com as famílias dos estudantes e que apliquem uma política de descontos e, se isso não for possível, flexibilizem os pagamentos para que não haja uma grande evasão. Abaixar os custos foi uma das estratégias dos Colégios Santa Amália, que ficam na capital paulista, para ajudar os pais durante a pandemia. "Julgamos necessário suspendermos as mensalidades dos cursos extras, já que eles não estavam sendo executados, além de darmos um desconto aos pais e recebermos para conversar cada família para entender a situação financeira atual", disse ao Portal da RedeTV! a professora Zélia Miceli, gestora dos colégios.
Transferência de escola
A mudança de colégio, ainda mais no meio do ano letivo, pode preocupar muitos pais que queiram ou precisem transferir seus filhos, mas Cardoso tenta tranquilizar essas famílias e garante a qualidade da rede pública. "Nós nos esforçamos muito para oferecermos o melhor ensino ao aluno, temos escolas de referências no estado e qualquer movimento de novos alunos na rede estadual é vista com bons olhos. A rede pública é uma rede que está aberta para quem quiser estudar", disse.
Para facilitar essa transição, os colégios Santa Amália têm entrado em contato com as diretorias das escolas para que a passagem seja saudável para o estudante. Apesar de terem poucos pedidos, Miceli garante que juntamente com os documentos que acompanham as transferências, a equipe pedagógica entra em em contato com as instituições "para dialogar sobre esses alunos, com a procupação da adaptação deles na escolas novas."
Inadimplência
A crise econômica causada pela pandemia da Covid-19 também atinge a rede privada de ensino do estado de São Paulo, só na capital a inadimplência do pagamento escolar chegou a 32% nos últimos meses, segundo o SIEEESP. "A grande evasão da rede privada são nas escolas que têm mensalidades R$ 300 a R$ 1.000", afirmou Silva, que pede aos governos para reequilibrar as contas das famílias das classes C, D e E, para que assim "elas migrem, de volta para a escola privada".
SIEEESP enviou cartas ao governador de São Paulo, João Doria, e ao Presidente da República, Jair Bolsonaro - (Foto: Divulgação/SIEEESP)
O governo de São Paulo também entende que a crise causada pela pandemia possa ter paralelo com o aumento do número de transferências, mas diz que "nunca busca entender o motivo ou ter algum critério para atender os pais que querem mudar os seus filhos" e que estão "abertos para quem quer que queira" estudar na rede estadual.
"É possível que parte do movimento seja sazonal, mas enquanto rede de ensino, temos vontade de atender todos que queiram entrar na rede pública e se manter lá, mas essa é uma decisão da família e do aluno. E se esse movimento for sazonal, a rede pública também não oferece nenhum empecilho, ela está de portas abertas para todos que queiram", afirmou Cardoso.
Matrículas
Por conta das normas de distanciamento social instituídas durante a pandemia do novo coronavírus, a rede estadual de ensino está recebendo as matrículas de forma online e todo o processo não deve durar mais que uma semana, se todos os documentos estiverem corretos. "Efetuada a matrícula, o estudante começa imediatamente nas atividades não presenciais. (...) Lembrando que o aluno será matriculado em uma escola próxima de casa", contou Cardoso.
A matrícula feita pela internet é inédita no estado e pode ser requerida no site sed.educacao.sp.gov.br/preinscricao.
Volta às aulas
O secretário executivo da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, Haroldo Rocha, disse na última sexta-feira (5) que o retorno às aulas presenciais, ainda sem data marcada, será de forma gradual. “A ideia é que nós vamos voltar em fases, (...) que a gente volte com 20% dos alunos no primeiro momento; no segundo momento, com 50% dos alunos; e, na fase final, com 100% dos alunos. Isso já é uma decisão”, detalhou o secretário.
Quando o retorno começar a ser colocado em prática, as ferramentas pedagógicas que estão sendo usadas para o ensino remoto durante a pandemia provavelmente serão mantidas em todas as redes de ensino. Cardoso entende que esses artifícios podem "complementar o ensino e diminuir a defasagem proporcionada pela pandemia", Silva se surpreendeu como "um aluno de terceiro ou quarto ano se sai em uma aula online, eles se adaptaram muito bem" e Miceli garante que o ensino batizado de híbrido "será realidade na vida dos estudantes dos colégios Santa Amália após a pandemia".
Parte importante dos bons resultados que todos os entrevistados relataram à reportagem tem nome: o professor. "Eles têm se desdobrado para dar aulas. Professor antes de uma profissão, é uma missão", disse Silva.
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