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Brasileiro larga tudo para conhecer mais de 100 países em 4 anos: "Viajei até acabar o dinheiro"

Marcus abandonou a sociedade em uma loja de roupas para se aventurar pelo mundo 

Marcus Ferreira na Bolívia (Foto: Arquivo Pessoal)

Com um sorriso largo no rosto, disposição e pouco dinheiro no bolso, o paulistano Marcus Vinícius de Freitas Ferreira, de 34 anos, deu a volta ao mundo e conheceu mais de 100 países entre os anos de 2016 e 2019. A meta foi estabelecida após o viajante, que era sócio em uma loja de roupas em São Paulo, tomar gosto pela vida aventureira quando morou nos Estados Unidos por três meses em 2012. O objetivo, num primeiro momento, era aprender o inglês, mas a experiência vivida em uma cultura diferente acabou seduzindo Marcus, que aderiu ao estilo 'mochileiro' e começou a focar seus planos em viagens pelo mundo. 

Tudo começou em 2010 após um cruzeiro até a Argentina. “Fiz um cruzeiro para a Argentina e ia ter uma parada no Uruguai, mas não teve porque tinha muita ventania e o Uruguai acabou sendo um dos países na América do Sul que eu não conheço. Mas está na lista. No mesmo ano fui para os Estados Unidos pela primeira vez quando saiu meu passaporte”, lembra ele.

A partir da ida aos EUA as coisas foram mudando e, segundo Marcus, nesta época o desejo de conhecer novas culturas começou a aflorar ainda mais: “Resolvi voltar para os Estados Unidos e ficar lá por três meses para tentar aprender a falar inglês. Mais viajei do que estudei. Tive viagens incríveis e conheci pessoas que me falavam assim: 'Amanhã estamos indo pra Las Vegas, quer ir?'. E eu respondia: 'Claro que quero'. Fui para o Havaí, para a Califórnia inteira de carro com pessoas que eu tinha acabado de conhecer. Foi a primeira experiência assim meio que maluca que aconteceu isso já de 2011 para 2012, um ano depois que eu tinha feito a primeira viagem”.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Ele traçou um objetivo de vida pautado em conhecer pessoas, em conhecer culturas. No entanto, o desejo de boa parte das pessoas em comprar um carro, uma casa, enfim, não era a prioridade do viajante. “Depois destes três meses nos Estados Unidos isso clareou bastante", ressalta ele.

Com isso, o paulistano fez muitos amigos nos EUA e as oportunidades de voltar à América do Norte ficavam cada vez mais fáceis. “Todo mundo me hospedava, grátis, eu eu tinha que aproveitar. Aí eu aproveitava pontos de programas de cartões e sempre que tinha promoção de pontos eu pegava e viajava, ficava com meus amigos, não gastava quase nada e foi nesta viagem que eu conheci pessoas que me fizeram pensar em ir para a Europa porque eu só havia viajado para os Estados Unidos, até então”.

(Foto: Arquivo Pessoal)

O fato de ter cidadania portuguesa, em razão dos avós lusitanos, facilitou as coisas. Em 2013, Marcus desembarcou na Croácia. “Com amigos fizemos a famosa Eurotrip, mochila nas costas e paradas de 3 ou 4 dias em cada país sem falar as línguas. Tive sorte, um amigo que foi comigo falava muito bem o inglês e o francês e resolveu tudo”, contou.

Em Mônaco, Marcus chegou a ser parado pela polícia após cruzar o túnel do principado – aquele que faz parte do traçado do Grande Prêmio de Mônaco da Fórmula 1 – em alta velocidade: “A gente alugou um carro e queríamos achar que era Fórmula 1. Fomos correr ali no túnel e a polícia nos parou em frente ao cassino. Eles vieram falar francês e se não fosse ele (amigo) nem sei o que ia acontecer”. 

Porém, a necessidade de falar a língua inglesa era um dos obstáculos na vida do viajante. Diante disso, Marcus resolveu abandonar a vida no Brasil. Nesta época ele era sócio em uma loja de roupas, e, mesmo com pouquíssimo  dinheiro, decidiu morar em Londres, na capital da Inglaterra. “Tinha apenas 700 libras no bolso (cerca de R$ 5 mil) e muita vontade. Era o que eu tinha”.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Foi um casal amigo que acabou o ajudando assim que chegou. Os dois, além de deixá-lo viver – de forma provisória – dentro de casa, ainda conseguiram arranjar um emprego para o recém-chegado. O paulistano, mesmo sem falar uma palavra em inglês, se tornou funcionário de uma loja de uma grife famosa. “Foi uma verdadeira escola pra mim porque eu falava com pessoas, aprendia a falar inglês e ainda recebia pra isso”, explicou. 

A primeira viagem sozinho

O dia a dia na loja realmente deu uma certa fluência no inglês de Marcus. Em junho de 2015 ele fez sua primeira viagem sozinho. “Foi aí que eu vi que eu consegui fazer as coisas sozinho, já conseguia me comunicar no inglês, as coisas já estavam fluindo. Em agosto fiz uma outra Eurotrip, desta vez sozinho”, comemorou.

O objetivo que era o de aprender a falar em inglês estava praticamente alcançado, mas, mesmo assim, Marcus continuou com a ideia de viajar ainda mais. Começou a se inteirar mais sobre culturas diferentes e a ler a respeito de viagens. O fato de viver na Europa também acabou ajudando. “Lá é diferente do Brasil, você consegue conciliar dias de folgas com dias de férias. Ou seja, você consegue usar todos os dias das suas férias durante o ano inteiro e foi aí que eu comecei a desenvolver as minhas viagens com aquilo. Costumava ficar em albergues, onde você compartilha os quartos, e fora isso encontrava muita promoção de voos dentro da Europa, já cheguei a pagar, por exemplo, R$ 14 ou R$ 15, ida e volta, para Alemanha”, destacou.

(Foto: Arquivo Pessoal)

100 países

Esta facilidade na visão do viajante o fez estabelecer uma meta. “Você começa a se realizar nisso. Neste tempo me veio: vou conhecer mais países e pensei: 'quero viajar para três dígitos, 100 países. E coloquei esta meta. Não por nada, não me espelhei em ninguém, foi na minha própria experiência, contagiar e ser contagiado com sorrisos em pessoas diferentes pelo mundo” contou. 

Marcus registrou a sua volta ao mundo no canal no YouTube chamado Viajando com Marcus. A cada visita a uma nação diferente, o paulistano ia registrando numa espécie de vlog. Além disso, ele numerava cada país por onde passava. Por exemplo, Sri Lanka é o país número 77. “Eu pedi as contas duas vezes na loja onde trabalhava em Londres. Em 2016 eu já tinha juntado um dinheiro e pensei: 'Vou viajar até acabar o meu dinheiro'. Já havia começado do zero uma vez, agora sei falar inglês, então começar do zero de novo não vai ter problema nenhum porque agora eu consigo falar inglês e vai ser mais fácil de arrumar um emprego”, detalhou. 

Coreia do Norte 

Entre os locais visitados, Marcus também desembarcou na Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo. De acordo com ele, a entrada no país asiático não foi tão complicada como ele imaginava. Bastou contratar uma agência e seguir, segundo ele, as restrições impostas: “Não fui viajar por política, por nada, eu queria ver as pessoas e tive uma experiência agradável, como em todos os lugares eu tenho. Quando você chega sorrindo em um lugar as pessoas acabam retribuindo”. 

(Foto: Arquivo Pessoal)

Ritual em ilha

Ao passar por Vanuatu, um país situado no sul do Oceano Pacífico e formado por 80 ilhas, Marcus chegou a presenciar um ritual local. Nesta nação, cujos ancestrais praticavam o canibalismo, Marcus conheceu um barqueiro que o convidou para ver o pôr-do-sol. Depois disso, eles seguiram para uma ilha onde onde haviam pessoas bebendo o famoso Kava que é popular em algumas ilhas do Pacífico Sul. 

“É um ritual que eles fazem, uma bebida de cor de barro que é preparada com uma planta e tem efeito relaxante. Dizem que tomado em pouca quantidade ajuda a relaxar. O barqueiro ainda citou que bebe todos os dias antes de ir para sua casa após o dia de trabalho. Me informaram que não contém álcool e que não é uma bebida alucinógena, mas tomei apenas um copo para não me arriscar", contou.

Como foi a escolha do país 100 a ser visitado

O viajante diz que não tinha algo planejado, porém estava na Índia, que era o país de número 98, e encontrou as brasileiras Raquel e Cecília, duas amigas de infância que estavam morando na Austrália. Uma delas iria seguir viagem com ele para poder comemorar o tão sonhado país de número 100. “Resolvemos que o país 100 seria o Nepal pois sempre sonhei em visitar o Evereste e incluí Bangladesh antes e foi onde pude realizar um trabalho voluntário por alguns dias em uma escola”, lembrou Marcus, que relatou que entrou no Nepal de carona em um caminhão e reparou que estava ilegal após quase 10km percorridos no país: “Tivemos que pedir para o motorista parar e pegamos um Tuk Tuk de volta para a fronteira para conseguir os carimbos de saída da Índia e entrada no Nepal”.  


(Foto: Arquivo Pessoal)

O aventureiro não apenas celebrava um grande objetivo alcançado, mas estava tão feliz que resolveu fazer a caminhada ao “Campo Base do Evereste” que fica localizado a mais de 5 mil metros de altitude sem nenhum tipo de preparo e nem experiência.

“Estava muito feliz de estar no Nepal, o Evereste sempre foi um grande sonho, achava que era coisa só de filme, mas pensei: 'Nada como chegar no ponto mais alto do mundo para comemorar um objetivo de vida alcançado'. Sem roupas adequadas, sem preparo e sem planejamento, resolvi de um dia para o outro que iria. Comprei algumas roupas nos mercados de Kathmandu que talvez fosse precisar e embarquei para Lukla algumas horas depois com menos de 10kg em minha mochila para começar a caminhada de alguns dias com destino ao topo do mundo”, destacou ele. 

Marcus relatou toda a caminhada pelos Himalaias através no vídeo abaixo:

Experiência gastronômicas

Marcus conta que na infância era um garoto 'enjoado' para comer. Na adolescência ele foi melhorando, mas após conhecer uma centena de culturas diferentes a história mudou totalmente. Ele teve de aprender, inclusive, a cozinhar seu próprio alimento. “Após comer coisas do mundo inteiro eu parei com isso e hoje realmente como o que você me der. Por exemplo, insetos, por mais que não sejam agradáveis, eu vou tentar comer, porque acho que a gastronomia local é uma experiência muito bacana. No Vietnã a culinária é deliciosa, mas eu via tantas baratas passando por debaixo dos meus pés que até acostumei”, justificou.  

A meta após passar por 103 países entre 2016 e 2019, segundo Marcus, é conhecer algumas nações que ele ainda não teve a oportunidade de visitar, especialmente o continente africano pois nunca visitou nenhum país da África. O paulistano também pretende retornar a países onde teve uma curta estadia.

“Para poder aproveitar um pouquinho mais, da cultura, das pessoas e até mesmo quem sabe morar algum tempinho em alguns lugares e ver o que a vida me traz. Nunca tive muitos planos, sempre fui daqueles: 'O plano é não ter planos e pra onde a gente vai amanhã?'. Então eu não sei, vamos esperar e o que a vida me trouxer e estou de braços abertos para receber. E espero coisas boas!”, finalizou.

Assista ao vídeo da entrevista de Marcus no Histórias do Dia, programa da RedeTV! no Facebook: https://www.facebook.com/186531694748197/videos/391919102060273