Entenda como a Bundesliga se transformou em um dos principais campeonatos do mundo
Campeonato Alemão tem jogos transmitidos em 211 países
Bayern e Borussia Dortmund são hoje os clubes mais "internacionais" da Bundesliga (Foto: Divulgação/Bundesliga)
Uma seleção nacional longe dos seus melhores dias, um campeonato nacional pouco atraente e dificuldades na formação de jogadores e demais profissionais das áreas técnica e de gestão.
Poderíamos estar falando sobre o futebol brasileiro, mas o parágrafo acima é sobre a Alemanha. A diferença é que eles souberam aproveitar o fato de sediarem uma Copa do Mundo para se reestruturarem.
O marco da renovação no futebol germânico foi a Copa do Mundo de 1998, com a eliminação nas quartas de final para a surpreendente Croácia, que fazia ali sua estreia no torneio.
Ali ficou claro que a vitoriosa geração dos anos 90, que contou com nomes como Klinsmann e Völler, e venceu a Copa em 1990 e a Euro em 1996, havia chegado ao fim e não havia uma nova a altura para substituí-la. A eliminação precoce na fase de grupos da Eurocopa em 2000, com direito a uma derrota por 3 a 0 para o time reserva de Portugal, só reforçou a necessidade por mudanças.
Nesse cenário, ser o país sede da Copa em 2006 se mostrou uma oportunidade única para transformações, com a construção de quatro novos estádios, a modernização de outros oito e, claro, o aumento do interesse em futebol por parte da população local.
Copa de 2006 iniciou o ressurgimento do futebol alemão (Foto: Divulgação/DFB)
Uma nova Bundesliga
O objetivo de ter uma seleção vencedora só seria alcançado através de clubes fortes e, consequentemente, um campeonato nacional competitivo.
A Federação Alemã já havia incentivado uma série de mudanças nas categorias de base. Investiu em estrutura, na capitação dos profissionais envolvidos e, principalmente, mudou a filosofia de jogo. Trocou o modelo tradicional baseado na imposição física por um moderno, intenso e composto por rápidas transições ofensivas.
Mas o ponto mais importante foi colocar em 2000 a administração da Bundesliga nas mãos de uma liga independente da federação, que por sua vez ficou responsável apenas pela seleção e a Copa de Alemanha. Tal separação, além de permitir um foco exclusivo no campeonato nacional, deu também um maior poder aos clubes.
Desde então o que se viu foi um enorme crescimento da liga alemã, que hoje tem seus jogos transmitidos em todos os 211 países filiados à FIFA.
A famosa muralha amarela do Dortmund: preços populares e casa cheia (Foto: Divulgação/Bundesliga)
A média de público, que cresceu em todos os anos desde a temporada 2003/04, é a maior do mundo, com 43 mil torcedores por jogo. O Borussia Dortmund, dono da melhor marca mundial entre os clubes, leva em média 80.825 torcedores por partida.
Ao contrário do modelo inglês, que usou a modernização dos estádios para um processo de elitização, os germânicos aproveitaram a Copa do Mundo para popularizar suas arenas, que contam com uma média de ocupação superior a 90%.
O preço médio do ingresso na Bundesliga é de 24 euros (R$ 110), enquanto na Premier League custa 36 euros (R$ 165), por exemplo. Além disso, existem lugares populares, sem cadeiras, vendidos em média por 11 euros (R$ 50).
O avanço na gestão se traduziu em bons resultados. Enquanto a Bundesliga se consolidou como uma das maiores ligas do mundo, neste período a seleção alemã conquistou uma Copa do Mundo e foi semifinalista em outras duas oportunidades.
Centralização da venda dos direitos de TV fortaleceu a liga (Foto: Elcio Mendonça/RedeTV!)
Modelo para o Brasil
Em um momento aonde se discute a transformação dos clubes brasileiros em empresas, a Bundesliga tem um modelo que pode servir de exemplo para o Brasil. A regra "50 + 1" obriga que 51% das ações dos times alemães pertençam aos seus sócios, evitando que uma empresa ou algum investidor, como acontece no Manchester City ou PSG, por exemplo, possa assumir o controle da administração.
Isso, somado a um forte controle da gestão, faz com que as equipes alemãs sejam saudáveis financeiramente e sigam fiéis aos seus torcedores e à sua identidade cultural, evitando que um negócio mal sucedido coloque o clube em risco, como aconteceu na Inglaterra com Sunderland e Bolton, que despencaram da primeira para a terceira divisão. O Bolton, inclusive, quase perdeu sua licença profissional por conta da falta de pagamentos. No Brasil, problemas enfrentados este ano pelo Figueirense, que por pouco abandonou a disputa da Série B por conta de problemas financeiros, reforça a necessidade de uma legislação que proteja os clubes neste modelo de negócio.
Outro ponto a se destacar é a venda dos direitos de transmissão, que é feita através da Liga e não individualmente, como no Brasil. Além de facilitar o processo de comercialização, tanto doméstica quanto internacional, possibilita uma distribuição de receitas mais justa, por exemplo.
A mudança no futebol brasileiro passa por uma gestão feita a partir e para os clubes, mas para isso é necessário que os dirigentes compreendam que são mais fortes unidos e que a rivalidade deve se limitar ao campo. Talvez assim o Brasil deixe de ser um mero exportador para se tornar uma liga relevante. Olhem para os germânicos...
Lewandowski marcou 14 vezes em 10 jogos contra o Dortmund: