19/09/2024 21:17:00

Ministra Marina Silva afirma que incêndios no Brasil são criminosos: "Não é coincidência o que ocorreu em SP"

Redação RedeTV!

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima explicou que a ação humana é a principal causadora das queimadas

(Foto:Divulgação/ Rede TV!)

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, participou do programa 'É Notícia', nesta quinta-feira (19), e afirmou em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar que os incêndios florestais no Brasil estão sendo causados por "criminosos", destacando que as queimadas no estado de São Paulo "não são uma coincidência" do aquecimento global.

De acordo com Marina Silva, eventos climáticos extremos estão afetando 58% do território brasileiro com seca, sendo que um terço enfrenta seca severa. "Nosso país está à beira da combustão, porque há uma grande quantidade de matéria orgânica ressecada, e qualquer fagulha pode gerar um foco de calor. Isso, depois, se transforma em um incêndio. Temos o fator das mudanças climáticas, que é um evento extremo, mas também temos a ação humana. O fogo, neste momento, não está ocorrendo por fatores naturais, como a incidência de raios. Segundo os climatologistas, esse fator não está presente agora. Portanto, trata-se de ação humana, em todos os lugares onde os incêndios estão acontecendo", explicou a ministra sobre os incêndios em São Paulo e outros estados.

Ela ressaltou que esses incêndios podem ser caracterizados como criminosos a partir do momento em que um decreto proíbe o uso do fogo e, se descumprido, torna a prática ilegal: "E o que é ilegal e é praticado sabendo que é ilegal, porque avisos não faltam, campanhas alertando que não podemos colocar fogo estão em todos os meios de comunicação. Então, as pessoas estão agindo de forma criminosa", afirmou a ministra.

Em seguida, Marina comentou sobre o episódio ocorrido no Parque Nacional de Brasília e em São Paulo, onde "a investigação está sendo conduzida pela Polícia Federal. Mas veja só, em São Paulo o incêndio começou por volta das 10h45, segundo imagens de satélite. Às 13h, São Paulo já estava queimando em 17 municípios, o que se expandiu para 300 municípios logo em seguida. Não tem como isso ser coincidência. Não é possível que, em poucas horas, vários municípios estivessem queimando ao mesmo tempo, sem a intenção de provocar os incêndios", afirmou.

Dados do Monitor do Fogo, do MapBiomas, indicam que, de janeiro a agosto deste ano, os incêndios no Brasil afetaram cerca de 11,39 milhões de hectares, com 5,65 milhões de hectares queimados apenas em agosto. Nos últimos dias, surgiram hipóteses de sabotagem e ações criminosas, e a ministra Marina Silva afirmou que isso é "uma mescla de fatores, incluindo a atuação de organizações criminosas".

"Estão se vingando. Como há um combate intenso ao garimpo, as investigações podem apontar para um processo de revanche. Temos informações, confirmadas por gravações de WhatsApp e reportagens, sobre o caso da Floresta do Jamanxim, no Pará. Depois que o ICMBIO removeu o gado ilegal que estava lá, os responsáveis disseram que iriam se vingar com fogo, e que o governo federal que apagasse as chamas. É isso que está sendo investigado", explicou a ministra.

Em relação à saúde, com essas queimadas, na última quinta-feira (12), o estado de São Paulo foi classificado como o quarto com pior qualidade do ar no mundo, segundo levantamento do site sueco 'IQAir'. Com a baixa umidade do ar, as condições de saúde da população brasileira se agravam, como destacou a ministra.

"A maior parte da população está sofrendo, e isso é algo sobre o qual precisamos refletir. Quem coloca fogo causa problemas de saúde, especialmente em crianças e idosos. Os postos de saúde estão lotados, e a fumaça não fica confinada, ela se espalha. Por isso, o governo do presidente Lula orientou que atuemos, independentemente de ser em áreas sob nossa responsabilidade. O Governo Federal é responsável pelas áreas federais, mas estamos agindo também em terras privadas e unidades de conservação estaduais, para tentar conter esse processo criminoso que ataca a saúde pública, o meio ambiente e as finanças públicas", pontuou a ministra.

Situações de emergências climáticas

Em relação às emergências climáticas no Brasil, há uma diversidade de vegetação que torna mais difícil conter o avanço das queimadas, o que gera prejuízos à saúde, ao meio ambiente e ao ecossistema animal.

Marina Silva destacou os riscos que esse fenômeno, seja natural ou provocado pela ação humana, pode trazer em termos de prejuízo ambiental e econômico para o Brasil.

"O risco para o Brasil é incomparavelmente maior. Ontem, na reunião dos três poderes, o professor Paulo Artaxo, da USP, fez uma apresentação fantástica, mostrando o que pode acontecer com o Brasil se não conseguirmos estabilizar a temperatura da Terra em, no máximo, 1,5°C de elevação. Se isso chegar a 2°C ou mais, as consequências serão devastadoras, podendo atingir até 4°C, o que seria um 'terror'. Já estamos sofrendo com os efeitos de um aumento de 1,5°C", explicou.

Marina acrescentou que o Brasil é prejudicado tanto pelos danos presentes quanto pelos riscos futuros. "Somos um país mega diverso e florestal, com um imenso potencial em biotecnologia. O Brasil é o país com maior capacidade de produzir materiais não intensivos em carbono. Temos um grande potencial de gerar energia limpa. Quem pode produzir hidrogênio verde para ajudar o mundo na transição energética? O Brasil. Mas, se destruirmos nossa água, não conseguiremos produzir hidrogênio verde. Para isso, ele precisa vir de energia limpa. A economia precisa ser diversificada, não podemos apostar tudo em uma única fonte", completou a ministra.

Como parte das ações para acelerar a criação do Conselho Nacional de Emergência Climática, inspirado no CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), está o plano do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

"Vamos criar um Conselho Nacional de Emergência Climática com o mesmo formato do CONSEA. Diferente de outros conselhos, que são consultivos, o CONSEA envia suas recomendações diretamente ao presidente Lula, e ele quis que o conselho climático também tivesse essa dinâmica, com recomendações indo diretamente para ele, sem prejuízo de serem encaminhadas a cada ministério ou até ao Congresso Nacional", concluiu a ministra.

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