CPI da Petrobras: Vaccari afirma que todas as doações ao PT são legais
Ag. EstadoDepoimento de Vaccari à CPI da Petrobras durou sete horas (Foto: ABr)
O depoimento à CPI da Petrobras do tesoureiro petista, João Vaccari Neto, apontado como o operador do PT no esquema de corrupção na estatal, foi encerrado perto das 18h. Após sete horas de perguntas e questionamentos, o petista, já bem mais solto e para um plenário esvaziado, fez um agradecimento: "Quero agradecer o presidente da comissão, os membros da comissão, porque estive aqui e respondi aos questionamentos dos presentes".
O presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), concluiu sua fala dizendo que a comissão vai atrás dos "ratos que desviaram recursos da Petrobras". No início da sessão, que não teve grandes avanços para a investigação parlamentar, um servidor comissionado da Câmara soltou cinco roedores na sala de reunião. Ele foi logo detido e acabou exonerado.
Em uma rápida exposição inicial, o tesoureiro optou por usar um slide. Ele defendeu o recebimento de recursos legais pelo PT. "Todas as doações que nós recebemos são através de transferências bancárias, com a devida impressão de recibos", afirmou.
Ao citar reportagem do Estadão, Vaccari disse que 65% das doações ao PT são de empresas não investigadas na Lava Jato. Segundo ele, o PMDB recebeu 24% das doações de investigadas, o PT, 23%, e o PSDB, 20%.
Vaccari negou ter recebido doações de caixa dois disfarçadas de repasses legais. "Durante todo o período que estou à frente da Secretaria de Finanças do PT, sempre que fiz visitas a empresas e a pessoas físicas, as doações foram voluntárias e sempre foi esse o nosso compromisso. E mais, toda a nossa arrecadação é prestada ao Tribunal Superior Eleitoral e nós nunca tivemos algum problema com a Receita", afirmou.
Segundo ele, todas as doações que são recebidas pelo partido são escrituradas, prestadas contas ao Tribunal Superior Eleitoral. E foram feitas de forma "voluntária e dentro da proposta de cada doador e sem nenhum outro compromisso".
O tesoureiro do PT afirmou ainda que não há outro responsável pela Secretaria de Finanças do partido. Segundo ele, o sistema de arrecadação de recursos do PT é centralizado no Diretório Nacional, que, posteriormente, cede parte dos recursos aos diretórios estaduais e municipais. Segundo ele, o partido está planejando uma campanha para aumentar a arrecadação de recursos entre os filiados.
Vaccari afirmou também que não foi responsável pelo comitê financeiro da candidatura a presidente de Dilma Rousseff em 2010. Segundo ele, desde a campanha de 2006, o PT decidiu dividir a tesouraria do partido da tesouraria da campanha presidencial.
Relação com Duque
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, admitiu à CPI da Petrobras que tem uma relação de proximidade com o ex-diretor da estatal Renato Duque, preso por envolvimento na Operação Lava Jato. Mas ressalvou que a relação que mantém com Duque é somente amistosa. Mais cedo, Vaccari disse que conheceu Duque numa atividade político-social, nunca tendo debatido qualquer assunto de finanças do PT.
Vaccari repetiu que faz parte do seu trabalho como tesoureiro procurar pessoas para captar doações ao partido. Questionado pela deputada Eliziane Gama (PPS-MA) se é inocente das acusações, o tesoureiro do PT respondeu que é. "Sou", disse, laconicamente, o dirigente petista.
Críticas à condução à PF
O tesoureiro do PT criticou à CPI da Petrobras, a forma como foi levado por agentes da Polícia Federal (PF) no início de fevereiro para prestar esclarecimentos sobre pontos das investigações da Operação Lava Jato. "Me causa estranheza ser conduzido de forma coercitiva sem necessidade, eu prestei todos os esclarecimentos", afirmou. "Estou e continuo à disposição das autoridades para os esclarecimentos necessários", completou.
O petista afirmou que a CPI mista da Petrobras, realizada no ano passado, quebrou sigilos dele sem ter encontrado alguma ilegalidade. "A CPI da Petrobras, que se encerrou na legislatura anterior, rompeu meu sigilo bancário e fiscal e fez todo o processo de investigação não achando qualquer irregularidade", disse.
O tesoureiro voltou a falar que o partido não tem conta no exterior. E repetiu que os recursos captados pelo PT são legais e registrados no TSE.
Tumulto
O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), causou tumulto ao concluir sua bateria de perguntas defendendo a prisão de Vaccari e a extinção do PT. "O senhor tem tudo para ser preso e o PT, extinto", afirmou o tucano, durante depoimento na CPI.
O deputado petista Leo de Brito (AC) protestou contra as declarações do tucano e cobrou providências. "Eu entendo que seja feito esse showzinho, mas a gente não aceita", rebateu.
O tesoureiro do PT disse que todas as visitas que fez para captar recursos para o partido foram de "empresas sérias", conforme previsto na legislação partidária. "Nós do PT recebemos constantemente visitas de empresários para discutir política", afirmou.
Direito de permanecer calado
Na noite desta quarta-feira, 08, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki concedeu habeas corpus para garantir a Vaccari direito a permanecer calado, não se incriminar, ser assistido por um advogado e não ser preso.