Acusado de receber R$1,55 milhão em propina, ministro do Turismo pede demissão
Redação RedeTV! com AgênciasHenrique Eduardo Alves era Ministro do Turismo do governo Dilma Rousseff e foi mantido por Michel Temer (Foto: Agência Brasil)
O ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) pediu demissão nesta quinta-feira (16), de acordo com informações confirmadas pelo Palácio do Planalto ao correspondente da RedeTV! em Brasília, Eric Klein.
O pedido foi feito após Alves ser citado na delação premiada do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. O ex-presidente da Câmara Henrique Alves teria recebido, segundo Machado, R$ 1,55 milhão em doações eleitorais com recursos ilícitos.
Em carta enviada a Temer, Alves classifica a decisão de deixar o cargo como uma atitude pessoal "em prol do bem maior" e afirma que não quer criar "constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo" - leia a íntegra no final deste texto.
Ele é o terceiro ministro, após pouco mais de um mês do governo interino de Michel Temer, depois de denúncias relacionadas à Operação Lava Jato. Romero Jucá, que foi ministro do Planejamento, e Fabiano Silveira, da Transparência, Fiscalização e Controle, saíram dos cargos após divulgação de trechos da delação de Machado, em áudio, em que eles criticavam a operação. Segundo a agência Reuters, o Planalto ainda não tem uma avaliação do que representará a queda de mais um ministro, mas uma fonte avalia que o "clima está pesado".
Fontes do Planalto não confirmam o teor da conversa do ministro com o presidente interino, mas lembram que Temer, depois de afastar o segundo auxiliar por problemas com a Lava Jato, chegou a dizer publicamente que havia criado uma "jurisprudência" e que ministros com problemas teriam que pedir demissão.
Esta não é, no entanto, a primeira citação de Alves na Lava Jato. Há dois pedidos de inquéritos ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria Geral da República, ainda sem resposta. Uma delas para incluir o ministro no chamado "quadrilhão", o inquérito que apura a formação de quadrilha para atuar na Lava Jato e tem 39 investigados até o momento. Em outro, para apurar sua relação com o ex-presidente da construtora OAS Léo Pinheiro.
O sigilo dos depoimentos de Sérgio Machado à força-tarefa da Operação Lava Jato foi retirado pelo ministro do Supremo Tribunal Federall (STF) Teori Zavascki, relator dos inquéritos da operação na Corte. Machado citou o presidente interino Michel Temer e mais de 20 políticos, entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Romero Jucá (PMDB-RR), além do ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT) e do ex-presidente José Sarney (PDMB-AP). Os políticos negaram as acusações.
Leia a carta na íntegra:
O momento nacional exige atitudes pessoais em prol do bem maior. O PMDB, meu partido há 46 anos, foi chamado a tirar o Brasil de uma crise profunda. Não quero criar constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo, nas suas próprias palavras, de salvação nacional. Assim, com esta carta entrego o honroso cargo de Ministro do Turismo.
Estou seguro de que todas as ilações envolvendo o meu nome serão esclarecidas. Confio nas nossas instituições e no nosso Estado Democrático de Direito. Por isso, vou me dedicar a enfrentar as denúncias com serenidade e transparência nas instâncias devidas.
Pensei muito antes de tomar esta difícil decisão, porque acredito que o Turismo reúne as melhores condições para ajudar o Brasil a enfrentar o momento difícil que vive. Esta foi a motivação que me levou a voltar ao comando do Ministério depois de tê-lo deixado por uma questão política, de coerência partidária.
Acredito ter honrado os desafios do setor no pouco mais de um ano que estive no Ministério do Turismo. Registramos conquistas importantes como a isenção de vistos para países estratégicos durante a Olimpíada e Paralimpíada, a redução do imposto de renda para o turismo internacional e a execução de obras de infraestrutura turística em todas as regiões, para citar alguns exemplos.
Presidente Michel, agradeço à sua sempre lealdade, amizade e compromisso de uma longa vida política e partidária, sabendo que sempre estaremos juntos nessa trincheira democrática em busca de uma nação melhor. A sua, a minha, a nossa luta continuam. Pelo meu Rio Grande Norte [sic] e pelo nosso Brasil.
Respeitosamente,
Henrique Eduardo Alves