PUC-SP inaugura banheiro unissex: "Não é para transgêneros, é para todos"
Bruna Baddini e José Ayan Júnior/RedeTV
Foto: Bruna Baddini/RedeTV!
Com andaimes, toldos e cheiro de tinta fresca, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) abriu suas portas para os alunos no segundo semestre em clima de reforma, custeada por um empréstimo de R$ 27 milhões do BNDES. Entre as mudanças e melhorias feitas por todo o campus em Perdizes, bairro da zona oeste da capital, uma vem chamando atenção e dando o que falar: um banheiro.
Instalado no primeiro andar do prédio Bandeira de Melo, também conhecido como "prédio novo", o banheiro, único entre os 35 da instituição, ostenta em sua porta uma placa com os dizeres "sanitário unissex" e é liberado para o uso de qualquer aluno, independente do gênero.
Em entrevista exclusiva ao portal da RedeTV!, a professora Maria Amália Pie Abib Andery, reitora da PUC-SP, explicou que a instalação do banheiro surgiu com a intenção de que o espaço tivesse a mesma utilização que em uma casa, na qual poderia ser frequentado indiferenciadamente por pai, mãe e filhos.
"A Universidade tem se preocupado muito com a questão da diversidade de gênero, de raças e de origem social. Nós temos uma preocupação importante de garantir que as diferenças possam estar dentro da universidade. Há estudantes e professores que entendem que é uma maneira de atender a diversidade ter um banheiro que possa ser ocupado indiscriminadamente, não importando o gênero", contou Maria Amália.
Segundo ela, a iniciativa faz parte da política geral da instituição, que prega liberdade e respeito de cada indivíduo, e do aglomerado de ações de inclusão universitário. "O banheiro unissex não é um banheiro para transgêneros, é um banheiro para todos. Quem se sentir à vontade, o frequenta, quem não, usa os tradicionais. É apenas um banheiro, nada além de um banheiro", defendeu.
Foto: RedeTV!
Desde que foi divulgada nas redes sociais, a instalação do sanitário ganhou repercussão e foi motivo de polêmica. A reitora da PUC-SP relatou ter se surpreendido com a proporção alcançada na publicação da universidade no Facebook, que teve mais de 2,3 mil compartilhamentos e 1,7 mil comentários: "Nunca imaginei que ele fosse gerar o que gerou. Gostaria que questões como essa fossem do cotidiano, das instituições e das pessoas. Que as pessoas não se sentissem ofendidas. Isso que quer dizer uma política de inclusão, que na universidade não importa a orientação sexual, a cor da pele, a origem social e mesmo a origem religiosa, que todas as pessoas sejam bem-vindas".
"A reitoria tem tentado de todas as maneiras fortalecer o contato com a comunidade LGBT, assim como com os grupos que defendem o Prouni, negros e a inclusão de indígenas na universidade", finalizou Maria Amália.
Foto: Bruna Baddini/RedeTV!
Embora a PUC defenda que se trate apenas de um banheiro, para os alunos o sanitário tem um peso simbólico e representa muito mais do que um espaço físico.
Estudante do segundo ano de Comunicação das Artes do Corpo da PUC-SP, Luiz Gonzaga, de 21 anos, acredita que a abertura do banheiro trouxe a possibilidade de pessoas que sofrem opressão por sua identidade de gênero ocuparem um espaço com mais tranquilidade.
"Acho um grande avanço termos um banheiro unissex na universidade. Quando você deixa de separar um banheiro de homem e mulher você reconhece que existem gêneros que vão além do feminino e masculino. Você reconhece que existem pessoas que não se enquadram nesses dois padrões e traz a possibilidade dessas pessoas poderem usar um banheiro e não se sentirem oprimidas. As pessoas ainda estão se acostumando com essa ideia, mas ter esse banheiro nos coloca a pensar e discutir", declarou Luiz.
Késsia Midory, de 22 anos e estudante do terceiro ano da Universidade, também se mostrou a favor. "Acho muito importante pensar não mais feminino e masculino, mas pessoas. É um avanço para nós, embora as pessoas achem o lado negativo até por conta do assédio. Acho importante a gente até pensar a questão do assédio de maneira mais profunda. Não será um banheiro que definirá isso".
Ainda que a opinião seja positiva de boa parte dos estudantes da instituição, houve ainda aqueles que reprovaram a abertura de um banheiro livre para homens e mulheres.
Estudante do segundo ano de Publicidade e Propaganda da PUC-SP, Julia Pickner se disse orgulhosa da iniciativa, mas, ao mesmo tempo, preocupada com possíveis abusos que possam ocorrer dentro do espaço.
"Todos os homens podem fazer algo contra a mulher, independente da cor, da classe social ou da instituição em que cresceu. O que me garante que no momento que eu for usar o banheiro, nenhum pervertido vai entrar e tentar fazer algo? Tirar fotos, tentar abrir a cabine, ou até mesmo me tocar, tudo isso é assédio e a segurança não é garantida", afirmou Julia, completando: "Acho uma ideia boa, mas nossa sociedade ainda não está preparada para uma mudança tão radical. Ainda falta trabalhar muito a questão do respeito".
Posicionamento do Coletivo LGBT da PUC
Em entrevista ao portal da RedeTV!, Andressa Myrela Honorato, do Coletivo LGBT Glamour, afirmou que embora a instituição não tenha entrado em contato prévio, eles estão contentes com a possibilidade de um banheiro no qual alunos não se sintam constrangidos por seu gênero.
"Nós do coletivo estamos muito felizes e orgulhosos pela medida tomada pela reitoria porque vivemos em um momento de abertura e força maior do movimento LGBT. Ter esse apoio no meio universitário está sendo incrível, estamos sendo representados", celebrou Andressa.
Segundo ela, apesar das críticas nas redes sociais, ainda não foi relatado ao coletivo qualquer caso de abuso dentro do banheiro. "Até agora o banheiro tem funcionado normalmente e de maneira tranquila. Não houve nenhuma reclamação para o coletivo e estamos muito felizes com isso. Está havendo uma consciência dessa abertura de espaço para a população trans que precisa de muita representatividade e força nos meios que transita", finalizou.
Não é a primeira vez
A implantação de banheiros unissex não é exclusividade da PUC-SP. Em novembro de 2015, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, aderiu à iniciativa "Libera meu xixi", uma ação voltada a combater a transfobia em espaços públicos.
Naquele mesmo ano, o bloco de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), também em Minas, a partir de uma ideia do coletivo LGBT, fez um abaixo-assinado enviado para o conselho do campus Umuarama solicitando a instauração de um banheiro unissex.
Foto: Caique Cahon/UFJF
Veja também: "Estamos falando de diversidade humana", enfatiza ativista transgênero