Clássico da Saudade: velhos conhecidos de uma rivalidade atual
Marcelo Fischer / Redação RedeTV!Santos e Palmeiras se enfrentam neste domingo (7) e o portal da RedeTV! conta um pouco de como essa rivalidade foi moldada
(Foto: Conmebol)
Santos e Palmeiras jogam neste domingo (7) a segunda partida da final do Campeonato Paulista de 2024. O Peixe precisa apenas de um empate para garantir seu 23º título, e o Verdão tem que reverter o placar de 1 a 0 para garantir o 26º caneco.
O Clássico da Saudade, que acontece há quase 109 anos, já foi palco de outras quatro finais, de jogos inesquecíveis e de jogadores que representam a época de ouro do futebol brasileiro.
Nas palavras de Fernando Galuppo, historiador do Palmeiras, o Clássico da Saudade é o embate das “maiores escolas da técnica que o futebol brasileiro apresentou em toda a sua história”.
Em 2024, os times passam por fases bem diferentes, mas mantém acesa aquela chama acendida em 1915. Ou melhor, chama que o Palmeiras, na época Palestra Itália, acendeu sem saber que iniciaria uma de suas maiores rivalidades.
Em clima de final, o portal da RedeTV! conversou com historiadores de ambos os clubes e conta como a rivalidade destas equipes foi moldada a partir de grandes espetáculos que nos trouxeram.
Onde tudo começou
A história nos leva para o ano de 1915. O recém-fundado Palestra Itália tinha o desejo de disputar o Campeonato Paulista da Associação Paulista de Sports Athleticos (APEA) em 1916. Para isso, precisaria escolher algum time de ponta para enfrentar e vencer.
O escolhido foi o Santos, que apesar de não disputar o campeonato, já tinha três anos de fundação e fazia os olhos dos espectadores brilharem com seu futebol.
Ali tínhamos definido o primeiro jogo da história do Clássico, que é o mais longevo da história do Verdão. Mas, não é uma memória guardada com tanto carinho, já que levaram a maior goleada de sua história: um expressivo 7 a 0 para o alvinegro praiano que garantia sua vaga no Campeonato Paulista.
O Palmeiras contou com a sorte e também se classificou, depois que o Scottish Wanderers foi desclassificado após pagar seus jogadores, algo que era proibido numa competição amadora como aquela.
A vingança palestrina viria só 12 anos depois.
O time dos 100 gols
Em 1927, o Santos tinha um elenco que encantava o Brasil, e ostentava o melhor ataque de toda a América do Sul.
O ataque mágico era composto por Omar, Camarão, Feitiço, Araken Patusca e Evangelista, que fizeram o Santos chegar aos 100 gols em apenas 16 jogos no Campeonato Paulista daquele ano.
Todo esse brilhantismo levou o Vasco a convidar o Peixe para o jogo de inauguração de seu estádio, o São Januário.
Os donos da casa foram derrotados por 5 a 3 e tiveram de entregar o bonito troféu “A Vitória” para os visitantes.
Guilherme Guarche, historiador do Santos, nos conta que é a partir deste jogo que as palavras “técnica e disciplina”, presentes no hino santista, surgem na história do clube.
“Esse time foi para o Rio de Janeiro, inaugurou o campo do Vasco, São Januário, ganhou novamente na revanche que o Vasco pediu. Tanto é que o pessoal do Rio de Janeiro, da imprensa, chamou o time de campeão da técnica e da disciplina. Foi daí que veio esse título, em 1927. Era um time imbatível”, nos conta Guilherme.
Mas, o Palmeiras, da melhor defesa da América do Sul, viria a acabar com a mágica. O time comandado por Serafini e Gollardo (que se tornariam um dos primeiros brasileiros a jogar na Europa) conseguiu desbancar a equipe dos 100 gols.
Ambos os times empataram em número de vitórias e até no incrível saldo de gols de 67, porém a vitória de 3 a 2 do Palmeiras sacramentou seu bicampeonato e adiou o sonho do título inédito do Santos.
(Foto: Divulgação/ Santos)
A ‘era de ouro’
Os duelos das décadas de 30 e 40 tiveram seu brilho e anteciparam o que seriam os duelos com “a maior retenção técnica de talentos” da história do país, segundo Galuppo.
Para se ter ideia, no período de 1958 a 1969, apenas Santos e Palmeiras venceram o Campeonato Paulista, à época o mais competitivo do país. Nove vezes o Peixe e três vezes o Palmeiras.
Do fim dos anos 50 até o início dos anos 70, as equipes foram protagonistas no país, e seus jogadores estavam presentes na seleção brasileira tricampeã mundial (58, 62 e 70) que nos tornou aclamados como “o país do futebol arte”, ou melhor, “o país do futebol”.
Nomes como Mazzola, Djalma Santos, Zequinha, Vavá, Emerson Leão e Baldochi representaram o Brasil nestas Copas do Mundo. Já o Santos, entregou jogadores como o Rei Pelé, Pepe, Coutinho, Edu, Joel Camargo e Clodoaldo.
E foi com estas estrelas em campo que aconteceu a primeira final entre as equipes.
Em 1959, os palestrinos vinham de uma seca de nove anos sem títulos, e Peixe, que já tinha a base do que seria o melhor time de todos os tempos, era o atual campeão.
Novamente Santos e Palmeiras empataram após o fim do torneio por pontos corridos no Campeonato Paulista. Desta vez, ocorreriam partidas de desempate até que saísse um vitorioso.
Após dois empates, por 1 a 1 e 2 a 2, o Palmeiras conseguiu bater o Santos por 2 a 1 no Pacaembu e sair da fila.
Apesar de ser a única final entre os dois nesse período, foi a primeira vez que, de fato, a cidade de São Paulo parou para ver o clássico. E pararia muitas vezes mais naquele tempo.
Clássico da Saudade
Manter o nível apresentado na era de ouro não foi simples. O Santos sentiu bastante a saída de Pelé, assim como o Palmeiras após a conquista do Campeonato Brasileiro em 1973 já não tinha um elenco brilhante como o da tão famosa “Academia”.
Assim, os anos 70 e 80 não foram dos melhores para ambos, e assim nasceu a terminologia “Clássico da Saudade”, que diverge opiniões.
Numa ótica, pode se ver “Clássico da Saudade” como uma representação de algo que nunca será tão bom quanto já foi. Guilherme Guarche diz que não concorda com o nome, “porque dá a impressão que é coisa velha, coisa antiga”, e não representa a história de ambos os times que mesmo após esse período de glórias, continuam conquistando títulos e revelando craques.
Já para Fernando Galuppo, “não é porque é velho ou termo saudade que ele tem uma conotação negativa”. E vê o nome pela visão de que “a gente tem saudade de algo que marca, de algo que é bom, de algo que é perene, de algo que é eterno”.
A verdade é que os times não deixaram a chama do clássico se apagar e a trouxeram para os tempos atuais.
Sequência de finais
Após 1959, uma final entre o alviverde e o alvinegro só foi acontecer no Paulistão de 2015. O contexto daquela final era completamente diferente do que vemos em 2024.
O Santos ‘tirava onda’ com o Palmeiras, já que no ano do centenário do Verdão, eles chegaram na última rodada do Brasileirão de 2014 na 16ª colocação, e caso o Vitória (17º) vencesse o Santos, eles precisariam vencer o Athletico Paranaense para não irem à Série B.
O Peixe acabou vencendo o Vitória com um gol de Thiago Ribeiro aos 94 minutos, e para muitos santistas ali começou uma “maldição”.
Em 2015, na final do Paulistão, o time da Vila Belmiro ainda venceu o Palmeiras, mas daí em diante, começou uma sequência de triunfos do Verdão. Neste mesmo ano, na final da Copa do Brasil, novamente as equipes se enfrentaram.
No primeiro jogo, o Santos dominou na Vila Belmiro e teve a chance de ir para o Allianz Parque com a vantagem de 2 a 0. Mas no último lance do jogo, Nilson, do Santos, perdeu um gol inacreditável e o jogo terminou em 1 a 0.
Na volta, temos um jogo emocionante. O Palmeiras ganhava por 1 a 0, e aos 85 minutos, Dudu fez o gol que dava o título para os donos da casa. Mas, aos 87, Ricardo Oliveira fez o gol do Peixe e a partida acabou em 2 a 1. Nas penalidades, o Palmeiras é campeão.
Nos anos seguintes, o Palmeiras inicia sua dominância no futebol brasileiro, vencendo quatro Brasileirões (2016, 2018, 2020 e 2023), três Campeonatos Paulista (2020, 2022 e 2023), mais uma Copa do Brasil (2020) e duas Libertadores (2020 e 2021). Já o Santos, só ganhou o Paulista de 2016.
O destino quis que eles se encontrassem novamente em uma final, e em 2020, ano que o mundo foi impactado pela pandemia da covid-19, o Clássico da Saudade deu as caras em mais um espetáculo inesquecível.
Pela primeira vez numa Copa Libertadores as equipes se enfrentariam, e logo de cara numa final num dos maiores palcos do futebol mundial, o Maracanã.
O jogo em si não foi um espetáculo. O empate em 0 a 0 parecia ser o placar final, que levaria o jogo a decisão nos pênaltis. Mas aos 53 minutos do segundo tempo, Breno Lopes fez o gol que decretou a vitória palmeirense.
Paulistão 2024
Em 2024, a final do Clássico da Saudade retornou. O Palmeiras, que já era cotado como um favorito ao título do Paulistão, não decepcionou e chegou invicto até o primeiro jogo da final. O Santos conseguiu acabar com essa invencibilidade, mostrando o quão surpreendente está sendo seu início de 2024 após ser rebaixado para a Série B em 2023.
Enquanto um lado tenta se reerguer, o outro tenta o tricampeonato que pode aumentar ainda mais as glórias dos últimos anos no comando do técnico Abel Ferreira.
A expectativa, é que o clássico que já nos proporcionou desde um 7 a 6 com pessoas "morrendo de infarto", vitória com gol de juiz no fim do jogo e até final da Libertadores, nos traga mais um espetáculo neste domingo.
Santos e Palmeiras são a prova de que uma boa rivalidade não é moldada no acaso, e sim na capacidade de ambas equipes de tornar todo jogo emocionante, no trabalho que se reflete em entretenimento aos torcedores apaixonados. E é isso que esperamos do jogo deste domingo: mais um capítulo desse livro, que sabe-se lá por quanto tempo continuará sendo escrito.
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